Eu ia explodir, mas perdi o controle e agora me sinto em paz. Não quero nada que faz doer, me nego a encontrar a dor. Há um tempo, quando ainda me invadia uma coisa qualquer, eu cheguei até a pensar que, uma vez sem ela, me pegaria vazia. Segui, mas segui cheia de nada, e esse nada sufocava meu ar. Sem palavras doces. Sem colorido vivo. Sem gosto e nem vontade. Mas hoje, com pés descalços e sem planejar, descobri o riso e gostei demasiadamente dele. Hoje quero a poesia, uns quadros sem traços muito certos, duas taças do tinto mais suave e um relógio que parou sem que se notasse... Assim estou plena, sem precisar explodir.
Havia uma menina e ela tinha brilho nos olhos, uns cachos exagerados que voavam ao vento, uma flor pregada ao vestido roxo, e transbordava a alma. Procuro aqueles olhos, mas sei que eles dormem um sono quase bom (não fosse a gritaria ao lado). Quis adormecer também, e tive insônia... Eu a vi num divã. Desses dias não há como fugir.
Mesmo com toda a emoção, ainda tenho uma coisa a decidir, e todas as outras mil. Uma listinha num papel amassado, a caneta caída ao lado, o travesseiro e o desejo de não sair. No topo de tudo (no topo do mundo), a vontade maior: ser humana! E vivenciar clandestinamente as coisas não postas, o não explicito, o não nato, o avesso, o contrário. Com sapatilhas que voam. As luzes atrás me dizem sim, e encontro a mim mesma nesse momento exato, quase eterno. Está em mim. Eu me desmancho inteira, porque aqui não preciso de defesas... Tudo é contemplação.