sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Plena

Eu ia explodir, mas perdi o controle e agora me sinto em paz. Não quero nada que faz doer, me nego a encontrar a dor. Há um tempo, quando ainda me invadia uma coisa qualquer, eu cheguei até a pensar que, uma vez sem ela, me pegaria vazia. Segui, mas segui cheia de nada, e esse nada sufocava meu ar. Sem palavras doces. Sem colorido vivo. Sem gosto e nem vontade. Mas hoje, com pés descalços e sem planejar, descobri o riso e gostei demasiadamente dele. Hoje quero a poesia, uns quadros sem traços muito certos, duas taças do tinto mais suave e um relógio que parou sem que se notasse... Assim estou plena, sem precisar explodir.
Havia uma menina e ela tinha brilho nos olhos, uns cachos exagerados que voavam ao vento, uma flor pregada ao vestido roxo, e transbordava a alma. Procuro aqueles olhos, mas sei que eles dormem um sono quase bom (não fosse a gritaria ao lado). Quis adormecer também, e tive insônia... Eu a vi num divã. Desses dias não há como fugir.
Mesmo com toda a emoção, ainda tenho uma coisa a decidir, e todas as outras mil. Uma listinha num papel amassado, a caneta caída ao lado, o travesseiro e o desejo de não sair. No topo de tudo (no topo do mundo), a vontade maior: ser humana! E vivenciar clandestinamente as coisas não postas, o não explicito, o não nato, o avesso, o contrário. Com sapatilhas que voam. As luzes atrás me dizem sim, e encontro a mim mesma nesse momento exato, quase eterno. Está em mim. Eu me desmancho inteira, porque aqui não preciso de defesas... Tudo é contemplação.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

5 minutos

A sensação do afogamento me parece insuportável. Não sei se pela água em si invadindo os pulmões, mas talvez mais pelo fim anunciado aos poucos, silenciosamente no desespero do último suspiro. Ar nao deveria custar tão caro. Me pego às vezes sem ar, precisando de uns cinco minutos. Não é nada deseperador exatamente, mas há um borrão em tudo que eu desconfio sentir. A verdade é que me sinto precisando respirar. Ou gritar. Tenho esse afogamento súbito em mim mesma, e me curo ao satisfazer minha necessidade de parar - parar, puxar calmamente o ar, e depois voltar à superfície, à respiracao involuntária.