terça-feira, 27 de julho de 2010

Revelações

Meus dias têm quarenta e oito horas, duas faces com batons diferentes. Estou cindida inteira, intensa em duas de mim teimosamente manifestas – ora ao sol, ora à lua. Transito entre os pólos camuflada do meu desejo, antípoda que sou e refém do que está submerso e eu não sei. Mas eu afloro, potencializando papeis intransponíveis e absolutos na busca de coisas que por vezes não representam exatamente tudo que há aqui. Sou o contrário de mim mesma, habito cordialmente esse corpo cheio de pernas que cambaleiam em volta da dúvida sobre o que seguir. Me perco a cada esquina, e esporadicamente experimento a sensação do fôlego do entardecer, na possibilidade de algo novo, fresco, úmido. Me fluidifico e vou.

Deixo os pensamentos não reveláveis permearem o lugar que lhes pertence, o dedo sobre a boca confirmando que por ali eles não saem. Sem palavras possíveis, despeço-me com o que me resta de “expositível”, ainda pouco penetrado de culpa e medo. Quando durmo, já aí acordo, e sendo outra inicio um outro capítulo com língua, cílios, mel e poema.

Sede(de)sentir

Estamos todos sedentos por sentimento, por mais que finjamos que não. Por isso compramos bilhetes com acesso a histórias de amor e nos inundamos em finais felizes clichês pra aquecer o coração de esperança. Por essa e toda a vontade de sentir é que rimos ao ouvir noticiada uma loucura inusitada de alguém extravasando emoção, e tomamos como extraordinário qualquer feito cotidiano que extrapole a macicez oca do comportamento diário embotado, calejado, infeliz. Desejamos ir ao cinema em tardes de Quarta-Feira, com sanduíches enormes e lenços de papel; lemos o mesmo best-seller, nos deixando surpreender com o desenrolar previsível, importado de outro mundo que nada tem a ver com o nosso; pagamos caro por qualquer insight que nos faça crer que não estamos vazios por dentro, deitados num divã de frente a um quadro com cores cruas. A verdade é que tudo isso, comercializável ou não em sua essência, se torna alimento do qual somos consumidores insaciáveis, secos que estamos da fonte de nós mesmos.

Li um dia desses que começos são sempre felizes. Todo começo é assim, por definição, feliz – e se você é teimoso o suficiente, faz com que os finais também o sejam. Não sei se acredito exatamente nisso enquanto vivência isenta de frustração, arrependimento e dor, mas de certo modo concordo que temos uma capacidade flexível de nos lembrarmos marcadamente das situações que delimitam “ciclos” e se tornam significativas a ponto da gente achar que ali inquestionavelmente foi “feliz”. A questão nisso tudo, porém, é pensar sobre o que está entre uma coisa e outra, o percurso. O meio é o agora, e dele ninguém costuma falar muito.

Meios são maçantes, lineares, pouco excepcionais. São como uma pena a se pagar (a moeda de troca), uma prova dura até que alcancemos o grand finale, explosão quase orgástica dos cinco minutos em que algo realmente acontece – e é tão imensa que se torna perceptível mesmo a quilômetros de distância. São poucos e raros esses momentos na vida – acho que já vivi um ou dois. Nessa hora, não há nem recordação do que poderia ter sido gosto amargo na boca, dor latente de feridas crônicas, noites cansadas sem sono, antigas novas manchetes diárias repetidas no jornal impresso a cada manhã. São momentos em que futuro não chega a ser nem uma possibilidade, porque a hipótese de que ele pudesse existir estragaria a imensidão da sensação real, presente e onipotente de plenitude que está sendo experimentada. Sim, estamos loucos por essa forma de sentir! Perseguimos ela a todo custo... Daí vem a busca incessante que cega tudo o que envolve o caminho, pois miramos obsessivamente em algo que está longe demais, foge ao nosso controle e que definitivamente não podemos ver.

Há, porém, um suspiro leve e bom em meio a esse desespero compulsivo, uma carta na manga do destino: de quando em vez, ao sermos pegos por um calor no peito que nos faz suar e borboletar a barriga, nos dispomos a abrir os olhos e perceber as cores vivas que nos cercam. Somos provisioramente curados da passividade indiferente, nos damos alta dos serviços

de “elocubração sobre o nada”, e nos enchemos de pressa para degustar todos os sabores novos e intensos que antes pareciam simplesmente não ter sal. Não é tão comum quanto eu gostaria, mas definitivamente faz parte do meio, porque, apesar de não marcar nada excepcional, é aí que sentimos verdadeiramente o quanto estamos vivos – é quando eu sinto que é maravilhoso estar viva, e que por todas as possibilidades inimagináveis vale a pena continuar a viver, cada dia por vez, com tudo aquilo que a vida pode me trazer.

Saudade.


A minha mãe se despede de mim ao telefone mandando eu ser feliz. Eu me emociono com o pedido. A voz é a mesma de quando ela pede para eu me agasalhar antes de sair de casa, ou não esquecer de tomar o café da manhã. Mas algo de verdadeiramente forte impulsiona o seu sentimento, e ele me toma de uma forma real e grandiosa. Sorrio, porque sempre achei bonito sorrir, sorrir e sentir.


Estranho assim, sinto junto ao riso algo doer em mim. Pensei em dizer que não me dói exatamente o fato de estar longe de casa, apesar da saudade que não me deixa esquecer um dia sequer que ela está aqui e me acompanha. Mas a verdade é que a dor é a própria saudade, disfarçada de bagagem fina, incômoda, latente, querendo me vencer pelo cansaço. Eu canso, mas continuo - mesmo com o peito vazio e os olhos cheios.


A música já dizia que eu tinha que preparar o coração, mas sempre achei que a idéia de destino, por si só, já seria soldado suficiente para combater qualquer tipo de sopro mais forte vindo das terras de lá. Maior engano não há. Eu sou o próprio vento vindo de lá, estou ligada umbilicalmente ao mar, à sonoridade do mormaço, ao misterioso ritmo que permeia todas as coisas, silenciosa e pesadamente. Sou feita daquele barro, que imprime em mim toda a forma de ver e sentir. Respiro fundo e me encho de orgulho da minha natividade. Mas ainda assim, estou longe...


Sei que a minha mãe reza baixinho todos os dias, e sei também que sua oração não falha. Sei que independente dos passos que eu dê, migalhas aos montes estão espalhadas pelo caminho por onde passei, e eu consigo voltar a qualquer hora sem sequer pestanejar sobre qual direção pegar. Sei que não importa quanto frio eu passe, quão exposta à chuva eu esteja, ainda assim, há braços do tamanho do universo esperando o meu corpo, com aconchego, proteção, chá de canela e mel.


Eu vim descobrir o mundo, e vi que ele tem prédios que tocam o céu. Mas o céu mesmo está lá. Cheio das minhas memórias com riso alto e extravagante, saia rodada e chinelos de dedo, e a certeza de sim, (mãe), ser feliz.


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sábado à noite

Todo o mistério por trás dos olhos pretos, o tecido preto, de cima a baixo, mas suficientemente indecente para revelar a pele. O nome de um homem. A repetição na boca cor de carne, o mexer enlouquecedor do corpo sob efeito de alguma droga endógena ainda não descoberta. Pulsação ritmada. O olhar pouco intimidado enquadra cada pedacinho para não perder um detalhe sequer. Provocação muda e mútua. Três por quatro só pra um, revelado pouco a pouco sob luzes fugazes. Ensaio de aproximação, um passo dissimulado, fingindo ser tímido demais. Todos os risos por dentro, risos no canto da boca, junto com a bebida escorrendo, insinuando o tamanho do desejo.

Sapatos altos, deixando alguns muitos centímetros de bônus, que parecem inflar também o ego. De vez em quando é irrecusável – e simplesmente bom. O jogo vai ficando forte, assim como as mãos, os braços e o resto . O cheiro chega, a textura e tudo mais, desfazendo a postura arrogante. A dança agora é quase um convite, explícita, conscientemente irresistível. Sem necessidade de palavras, é sim.

O sol amanhece cheio de ironia, com uma potente sensação das delícias não reveláveis do Sábado à noite...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Apêndice


Palpitação inútil e fora de hora. Eu sempre sinto com atraso. Parece que vivencio a emoção nos cinco minutos depois, na reprise dos atos que mexem fundo em mim. Quando deixo transparecer, já é tarde demais, e fica inteiro engasgado sem poder sair.


Eu tive todas as oportunidades imagináveis, e as deixei escapar uma a uma sem dar a menor importância. Bati as asas pra longe, bati os pés forte no chão, teimosiei gritando em defesa do meu direito de ter, sim, todo o tempo do mundo. Mas eu não queria tempo – o que eu queria mesmo era certeza, e no fim das contas, ela nunca veio. Agora, sinto mais uma vez que deixei passar por mim o que poderia ter sido de fato algo real. E o que restou do meu sentimento? ...Hipótese!


Será pranto bobo de coração vazio? Ou vontade birrenta de algo que se desfez, escorreu pelos dedos das mãos? Será só o rosto quente, ausente, pedindo cafuné ou será uma prece sussurrando por um motivo qualquer? Sabe Deus. Mas no fundo, sinto esse sentimento sem nome tomar proporções gigantescas em tardes abstinentes da sensação de hoje, e o reconhecimento do desejo não torna a angustia mais suportável... Estou inquieta, incabível, enlouquecendo e revirando por dentro! Olho a fotografia e me ponho quase entregue ao impulso, certa de que vou me machucar, vou me arrepender (nenhuma novidade). Tenho um passarinho no meu peito, e ele segue preso, cantando o canto mais livre à espera de ouvidos gentis, ouvidos dispostos. Aqueles.


Está tudo fora de lugar e é irritante a minha falta de controle.

domingo, 4 de julho de 2010

Valentino

Entro em casa como se finalmente chegasse ao meu esconderijo. Trago nos ouvidos e na pele o gosto da tarde deliciosa, e sou surpreendida pelo cheiro de canela que já habita cada cômodo meu. Nem tiro os sapatos para não perder tempo, mas a verdade é que eu quero estender essa sensação pulsante noite adentro. Quando o amanhã vier, quero que ele saiba que eu descobri a fórmula do riso e que agora ele mora em mim.

Hoje mesmo na cama antes de levantar tinha me enchido daquelas velhas desculpas pra evitar qualquer tipo de enfrentamento. Os pensamentos quicavam aceleradamente em minha cabeça, e a cada cinco segundos os planos quase definitivos viravam nada mais que poeira antiga e defasada. Pensamento-demodé. Mas de tanto ouvir, resolvi arriscar a idéia de prender a respiração e ir. E foi o que eu fiz: liguei o som no volume mais alto, pra obrigar as palavras em minha mente a dançarem a melodia todas no mesmo ritmo, sem me preocupar exatamente com o que viria depois. Só assim consegui sair, dedos cruzados e tudo. Um vestido verde, verde nos olhos - à espera de que fossem olhados profundamente. Lidos. Investigados. Violentados até que, por fim, e finalmente, se revelassem. Agora estou na rua, olhos, cachos, dentes e tudo. Presa do lado de fora do mundo. Solta na vida!

Um degrau, outro degrau, o sol tímido, mas definitivamente mostrando a que veio. Fila, gente em pé, gente carregando mochila, bolsa, sacola, um bocado de histórias que me deixam curiosa. Eu me sinto gigante, porque meu desejo não cabe dentro de mim. É como se as possibilidades todas da vida se desenhassem em minha frente, e depois saíssem correndo, como se brincando com a minha mania organizada e rígida de propor cada coisa. Continuo caminhando atrás de algo qualquer, inteiramente despida das minhas exigências virulentas, certa de que estou sendo levada ao lugar em que tenho que estar. Há tempos joguei uma moeda num poço de desejos, e aposto dias ensolarados como esse na capacidade daquela moedinha em fazer todos os milagres. Afinal, esse é trabalho dela.

Subo as escadas erradas e agora tenho que atravessar a rua em meio aos carros que decidem não ter freios. Nada pára, nem os carros, nem o tempo. Não tem problema. Me arrisco quase saltitante, certa de que o tempo não importa mais – ali algo me espera e já é meu. Vou vivenciar delicadamente cada suspiro, cada pingo de emoção que cair sobre o meu colo. Me abri sem reservas, me deixei ser tocada por todos os lados, levada pelo teor doce que se descortina à frente de mim.

Encontro um rosto que me faz palpitar disrítmica por uns três segundos, volto a mim, às paredes preenchidas de cores. São mãos, rugas, olhares, e o mar paralisado, como se deixando naquele segundo fotografar. Passeio através dos olhos de outra pessoa, mas acordo em mim lembranças que me fazem extrapolar. Um meio-corpo revelado na luz amarela já me fez acreditar que valeu a pena estar ali. Tenho vontade de dançar no silêncio, mas fico só imóvel, admirando.

Depois, como tudo, um café e mil revelações. Intocados estavam, e assim permaneceram, mas não deixaram de extravasar aceleradamente o que continham. Sem engasgos - só alguns. A tarde foi embora, preenchida das esperanças todas – concretizáveis ou não. Um livro, uma assinatura bonita, um toque de carinho, mas sem tocar. O desejo de fugir e ver tudo de perto, do convite pra ir junto, largar tudo, reconstruir, reinaugurar. Ai, o desejo.

Um tapete com flores me espera na porta de casa, e eu adentro o esconderijo, tiro aos poucos a fantasia, lamentando me despir desse papel... Não entendo ainda o que se passou, mas certamente me ouço declarar uma paixão que nem sabia que ainda existia aqui. Forte e viva. Um fragmento de mim grandioso.

sábado, 3 de julho de 2010

Ponto, falei.

Eu estou bem aqui, de carne e osso, tentando encontrar as palavras certas. Não deu certo a tentativa de fingir que não tenho pele, a verdade é que tenho tudo: corpo, desejo e sonho. Todo mundo precisa de inspiração, engano meu achar que estava imune. Passei muito tempo tentando me esconder, justificando a mim mesma que estar longe significava estar protegida, e agora engulo seca a solidão pelas minhas gargantas, sem saber por quem chamar. A vida não cai do céu... Tolice minha achar que estaria satisfeita em me colocar à margem, em passar pelos fatos sem sentir. Eu, tenho, sim, pele e ela arrepia... Estive evitando qualquer coisa que causasse dor, mas me dói a ausência de voz, de riso com os olhos puxados, de uma outra taça - mesmo que depois eu esteja sozinha outra vez.


Nunca estive tão vulnerável ao meu medo, mas nunca estive com tanto medo por não ter o controle. Quantos riscos mais eu vou ter que correr? Eu os assumo todos, porque o silencio calmo perturba cada centímetro de mim, e a verdade é que eu não quero estar sozinha. Está feito, assumo que não sei viver só comigo, e sinto essa exposição tão extrema sobre quem sou me queimando inteira por fora e por dentro. A transparência arde.


Eu posso conter esse desespero que toma conta de mim, juntar as minhas pernas e respirar bem fundo, sussurrando um mantra e insinuando uma meditação. Posso tomar um banho longo, colocar pijamas confortáveis, apagar as luzes. Posso preparar um café sem pressa, deixar que o cheiro preencha os cômodos da minha casa, e depois ingerir cada gole como se eles tomassem vagarosamente tudo que há em mim. Eu posso me alegrar pela liberdade de invadir o mundo de uma pessoa qualquer pelas páginas do livro na minha prateleira, e provavelmente é isso que eu vou fazer essa noite, após o banho quente e o café forte. Vou secar as minhas lágrimas, tirar os fones do ouvido e afastar essa música repetitiva que me traz a vontade de cantar com alguém. Não há mais procura no vazio dessa escuridão. Eu estou só, numa constatação diária, sem dramas, que nem deveria mais me ser tão dolorosa. É quase uma escolha, uma estratégia disfarçada de proteção. Eu já devia estar acostumada.


O meu mundo não está se esvaindo em pedacinhos, também não tenho reais motivos para soluços de desespero. Ainda agora toca o meu celular, e meu coração acelera na esperança de algo que me abra um sorriso, mas não é ninguém. Um aviso impessoal da empresa telefônica me convida a baixar jogos sem pagar por eles, e eu não consigo não pensar na grande ironia que isso é. Com quem eu vou falar sobre o meu coração manhoso, fingidor de dor? Será que a vida inteira eu vou ser essa garotinha de 12 anos? Não posso estar mais exposta que isso, mas agora não importa manter qualquer tipo de aparência madura. Eu clamo por socorro (e mantenho-me paralisada nos sofás). Não é que eu esteja vivendo nada novo, não houve sequer um sinal de alerta. O mar está do mesmo jeito, as luzes no mesmo lugar, os objetos empoeirados intocados, e eu aqui. Nada em mim se alterou, nem sinto o ritmo da minha respiração. Mas é sofrido do mesmo jeito, inexplicável o transparecer hialino da minha alma.



(Eu sou passível de ser feliz, e digo isso baseada nas incontáveis oportunidades diárias que não consigo ver. Eu sei que algo em cores irradia de mim. Há uma sensação potente e inexplicável que me emerge e que eu não sei o nome... Eu tenho chances, consigo vê-las, e elas me aparecem timidamente em convites despretenciosos, quase desatentos... Eu não sei o que eu quero, mas não quero mais ser minha única companhia. O mundo é grande demais pra ser admirado só pelos meus olhos – eu quero dividir a vida, dividir ela inteira.)

Cinza

Não sei se é desinteresse ou medo o que me faz distanciar da minha própria vida. Mergulho em viagens para a Indonésia, me transporto pra uma Nova York antiga na pele de um adolescente em crise, viro uma detetive mamão-com-açúcar apaixonada pelo analista. Tudo para fingir que não sou eu. Quero um remédio que me faça ficar submersa, que paralise meus pensamentos, e encha de ar suficientemente meus pulmões até eu me sentir pronta. Chego a tremer sob a suspeita de qualquer barulho, mas silenciosamente sei que estou gritando por resgate. A verdade é que eu estou cansada de precisar que a salvação venha de fora, e dessa vez me voltei definitivamente pra dentro. Estou virada pelo avesso, enxergando meu coração se contorcer de desamparo. Desnutrida. Um véu cobre o meu corpo desolado, e com ele vou flutuando pelos dias sem fazer a menor diferença.

Eu costumava saber o que eu queria. Costumava acreditar nos outros, acreditar em mim mesma, mas tudo isso de repente se transformou num ceticismo rabugento e inabalável. Meu pincel só desenha tons de cinza, e nada mais cabe em mim, nem mesmo as promessas- as boas promessas. Não adianta falar comigo, meus ouvidos não querem ouvir – porque dói. Como alguém mais vai ter as respostas se nem eu mesma as tenho? Não quero mais o sereno, desisti de me expor a ele, mesmo sabendo da possibilidade de encontrar despretensiosamente lá no fim um cobertor e um céu com estrelas. Abdico temporariamente da esperança, enquanto espero que nada aconteça.