sábado, 26 de janeiro de 2013

Senhora



Só.

Pessoas simplesmente tristes, aquelas que carregam a tristeza da vida, se reconhecem instantaneamente. E se atraem magneticamente pro mesmo centro comum, o que beira a compreensão mútua de algo que não se diz, não se explica. Com o tempo, a gente se convence de que as pessoas tristes gostam da solidão. Imprescindem dela. Padecem de um medo extrapolado de alguma coisa. Todas compartilham um medo secreto, cúmplices de algo que nao sabem ao certo o que é. Talvez, penso eu, seja medo da ignorância de estar feliz, esse fardo pesado demais, que extravasa da cobrança excessiva sobre si mesmo. Um narcísico boicote da própria lucidez.
Não há como dividir apenas por se estar disposto. Para dividir de fato é preciso saber fazê-lo, antes mesmo de querer. A gente se atrai pelo similar ao nosso escancarado no rosto do outro, a mesma possibilidade de amar o próprio erro, o próprio acerto, a ausência ou não de paz. Cada um tem o relacionamento que pode ter, diante de si mesmo. O outro é uma consequência.

Seguimos todos.

E só.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Pela metade

Se eu ainda soubesse escrever, falaria de coisas que não aconteceram comigo, aquelas que fariam de mim alguém melhor. Alguém com quem você gostaria de dormir todas as noites.
Se eu ainda tivesse calma, fosse suficientemente obscura e doce, escreveria uma canção com o seu nome e me mudaria para Viena, mala, cuia e cuíca, passagem apenas de ida, pouca roupa, pouco tudo.
Se eu ainda tivesse coragem. Se eu tivesse paz. Se eu tivesse escolha.


Resta-me, apenas, o som reticente do seu silêncio, meu luto daquilo que não sou, explicitamente sabido - e gostaria de ter sido.