terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Ney, Cazuza e Poema.

Haverá sempre a África, meninos remelentinhos e a sensação de estar vivendo História.
Haverá sempre Paris, luzes que iluminam beijos apaixonados, cadeiras em cafés voltadas para a rua, para que se veja como as pessoas passam pela vida.
Haverá sempre a Bahia, o calor que vem da terra, do mormaço misterioso e sem fim, do maracujá doce que adoça também o medo.
Haverá sempre uma lembrança, um vestido cor de rosa, um charuto metido a sexy, que desfila entre dedos, entre mais que uma boca.
Haverá sempre o desencontro, o descompasso, a raivinha fina como chuva, como garoa que vem só pra provocar, pra se dizer viva.
Haverá sempre a beleza dos sonhos imensos, a caixinha secreta dos desejos quase ocultos, os momentos sinceros de uma ou outra revelação.
Haverá sempre o mistério.
Haverá sempre uma boina garança, uma boina francesa, uma boa desculpa pra rirmos de nós mesmos.
Haverá sempre São Paulo, com seus prédios infinitos e menores que a saudade, com as milhões de possibilidades encantadas e vazias, porque não tem quem precisa pra preencher.
Haverá sempre o passado com seus fantasmas em forma de coração.
Um cd com músicas que faltam.
Um telefone que não toca.
Uma ligação que dura a eternidade.
Haverá sempre uma vontade de abrigo, uma vontade de certeza, uma vontade de pra sempre.
Haverá sempre um coisa esquisita, um estranhamento sem nome, mas que existe e que ficou em mim.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Meu canto

Pra quem eu canto a minha música? Sinto que a voz no meu peito grita pra sair, e eu me pergunto se ela deve sair em forma de riso, em forma de choro. Me sinto infinita, com todo o sentimento do mundo dentro de mim. É uma canção repetida, mas sinto como se a estivesse descobrindo pela primeira vez, porque renova em mim uma vontade de me expor, de mostrá-la em suas arestas mais imperfeitas, mais milimetricamente frágeis e incompletas. Como um quebra-cabeça cheio de peças mal encaixadas, deliberadamente mal formadas, à espera de um pequeno ajuste aqui, uma jogada mais gentil, uma reviravolta sutil e avassaladora.
Na verdade não há nada de errado, mas o canto não deve caber em uma planilha pré-programada ou num arquivo mil vezes revisado. Ele tem que estar no mundo, tem que ter vida própria. Não precisa métrica, não precisa de toda uma preparação exaustivamente ensaiada, com brilho, iluminação especial e, inevitavelmente, aplausos. O canto deve sair descarado, contorcido, extrapolado, exagerado, quase deixando as minhas bochechas vermelhas. Deve sair quando achar que encontrou ouvidos dispostos e abertos, ou quando achar que simplesmente precisa jogar-se ao vento. Uma música preferida ou nem tanto assim – mas o sentimento bruto e ainda quente.
Tenho vontade de um microfone baixinho, uns sussurros roucos e um expectador atento, minimamente curioso. Só para cantar quem sou, para me fazer ouvir. Para que me veja, sem que precise de olhos.