segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pausa pra com-ciência.

Estive cá pensando com os meus botões e outras duas mãos. Nem era preciso dizer. Impedidor maior que a vontade explícita é a tênue percepção dos fatos- melhor então assim, com uma coberta fina e um braço a menos! Durmo ainda bêbada de pensamento...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Inside the car

O dia começou cinza, com poucos graus na tela do computador. Eu me atraso a acreditar. Os carros não andam, como se teimosiando lentamente, num protesto preguiçoso e uniforme, a necessidade de engatar adiante no dia. So é o começo.
Meu pensamento também insiste em não acordar, talvez insista mesmo em não ver. A melancolia nao passou com o passar da noite, ficou impregnada em meu corpo pesando mais que uma tonelada. E isso é apenas a pele. Eu custo a seguir. Estou esquisita, invadida e sozinha. Um monte de gente dentro do mesmo lugar e a sensação silenciosa de estar com frio e com ninguém. Faz parte de dias chuvosos assim manter-se distante como a aparência lá de fora? Ou esse é apenas um outro pretexto pro afastamento já usual, já cotidianamente imposto?
Tenho uma aquarela em meu bolso fundo, uma faísca de possibilidade. Não sei ainda o quanto vou conseguir colorir da vida, mas preciso desesperadamente saber que elas, cores, existem e estão ali, à espera. Basta agora um pincel largo que se proponha a aquecer cuidadosamente os sentimentos. Como carinhos quentes... (aqueles mesmos que eu descobri na cidade do sol)!
Um respiro longo e largo. Talvez surja algo discreto, luminoso e passível de ser sentido ainda hoje... O meu único poder deliberado fica sendo então cruzar os dedos. Vamos torcer!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Outra beleza não há.

O metrô passa rápido demais, mas dá tempo deu ver. Uma mulher não muito alta, não muito esguia, nada elegante. Uma mulher linda. Entrelaçada, com panos amarrados ao redor das costas, até a cintura, formava um ninho aconchegante para sua cria. Era um aventalzinho de canguru, um bolso pra colocar um segredo, um forno onde se aquece o coraçãozinho do filho. Outra beleza não há. Observo tudo aquilo tomada por um encantamento que eu nem sabia ser capaz de sentir, como se naquele exato momento estivesse partilhando clandestina de uma corrente de afeto universal. Eu podia quase ver concretamente o fluir mágico e despretensioso da imensidão do sentimento. Ao redor, pessoas apressadas em suas bolhas de vidas vazias, apressadas para lugar nenhum. Secas. Cegas. Como o mundo não parou para ver essa fonte exuberante de amor?


Entro os portões de casa embebida do prazer de presenciar um estalo de sentido para isso que chamamos de vida. Se é que há um sentido, acho que acabo de descobrir. Agora carrego em mim um segredo, um desejo de ter isso também para mim. Chamarei de Sophia, de João, de meus pequenos, príncipe e princesa. Ensinarei a andar, a correr pelados pro mar. Sei que somente assim experimentarei concretamente a maior dimensão que pode haver um sentir. Logo eu, inebriada pela possibilidade de simplesmente ser levada pelo envolvimento doce e terno que brota do fundinho do coração...


Já espero vocês, desde já, meus queridos.

Até passar.

Se alguém conseguir entender, por favor, me ajude. Sou uma três dias antes, outra naquela noite, outra duas manhãs seguintes, uma na próxima madrugada. Tudo isso é um fato e eu não sei o que dizer. Não dá pra fugir nos momentos em que escapole tudo tão exageradamente, nos seus extremos mais opostos, bom e ruim, real e inventado, céu e inferno. Está tudo isso aqui, dentro de mim, misturado como água e sal. Não sei mais viver sob esse regime inconstante. A rotina me toma tão avassaladora que me faz despencar num precipício. Quebro as pernas, elas, que até então dançavam feito bailarinas. Me pego chateada com a minha inabilidade em controlar o mundo, corte fino de navalha no belo rosto narcísico que projeto no espelho.



Sinto que a sensação é tão maior que o fato, mas estou de repente míope. Perdi a sensata e indispensável capacidade de distinguir a diferença das coisas diametralmente opostas, de perceber sutilmente o significado exacerbado de certas reações. Estou exatamente no olho do furacão, na boca do vulcão, no meio do tiro ao alvo.



Deus, será que eu faço a menor idéia do que estou fazendo? Continuo com mil perguntas sem respostas, descobrindo coisas que não gosto sobre mim, caminhando em estradas que levam a qualquer lugar sem nome, sem dica ou aviso prévio. Cansei dos delírios. Cansei da falsa sensação de segurança absoluta, da paz inexistente, do palco inabitado.



Me desagrado na diferença, como uma criança que acaba de perceber que o resto inteiro é simplesmente um não-eu de gosto amargo. Os sonhos acordados agora me nauseiam, perdi a graça ao perceber que no fundo nada disso é verdade. O que não passa de invenção tem destino próprio, e essa é a verdade da qual não posso fugir.



Quero apenas ouvir uma música daquelas que fazem os olhos limparem a água e o sal de dentro... E assim fechá-los até dormir. Hoje não preciso sonhar.

Anterior a.

Se por toda vez que meu pensamento voasse ate lá eu roubasse uma estrela do céu, teria em casa um tapete extravagante e iluminado. Assim, talvez, eu me sentisse mais perto do antídoto pra minha urgência.
Ando incurável ultimamente. Um saci de perna bamba sorri safadamente pra minha mente, ela que acabou de perder todo o seu já escasso poder de concentração. Estou flutuante, apoiando-me nas estrelas...
A verdade é que eu queria ter coragem de falar o nome proibido, admitir o Sentimento Silencioso predominante. Nao tenho mais esconderijo - sai pelos meus ouvidos, nariz, boca, exala no meu cheiro, extravasa os poros todos. Perdi meu estado imune, e quero gritar pro mundo o meu desejo! Mas tenho medo. Amanhã, quando as estrelas dormirem e a rotina acordar, quando eu precisar encarar os meus monstros diários, aí o meu peito falará mais uma vez que talvez meu excesso seja irracional, seja uma busca exagerda por afeto. Será...?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Harder.




A angústia é o sentimento embrutecido, que ainda não teve tempo de ser lapidado. Sem questionamentos, corta-me forte, visceral. Eu sinto que estou entregue quando me toma aquele ar inexplicável de alguma coisa (...), uma potente sensação de qualquer uma delas. Pode ser tudo, pode ser nada, pode ser exatamente o que eu sei e tenho medo de admitir. No quarto escuro sob um cobertor pesado, deixo cair sobre mim o peso do sentimento ainda sem nome, deixo escorrer a lágrima sem propósito, a alma com frio, a fala sem voz. Nessas horas só há sentido a solidão.
Como uma baleia parcialmente submersa num palco com neve artificial, metade me escondo, metade mostro meu espetacular tamanho. Só assusto a mim. Olhei no espelho e dele saiu outra eu, que me olha nos olhos e aguarda uma reação. Eu reajo, como se estivesse experimentando aquilo que eu imagino gostar, desejar, até perceber que é verdade. Tudo por enquanto é sobre mim, e brota razoavelmente angustiado, como se já fosse sabido. Ser racional me faz enxergar mais do que eu gostaria, porque a percepção se une escandalosamente ao sentimento latente, e se torna poderosa. Tento não me mexer, para não sair furacão.
Eu vejo ovos e piso neles, consciente de todos os possíveis fatos, apenas pelos cinco minutos em que não me sinto só. A lembrança e o resto só doem.

domingo, 1 de maio de 2011

Casa



Estou sentada com saltos altos, experimentando uma sensação nova, ao som da poesia que beijou os meus ouvidos desde aquela primeira vez. Estes saltos me fazem ver que apesar das minhas pernas bambas, da insegurança em relação ao nome que isso tem, eu estou aqui, imposta a mim mesma. Gigante. A parede rosa imita o doce de como tudo tem se dado, leve, livre, doce, doce... Fantasiada, mais real que nunca, torno-me suntuosa rainha, dona do meu conto, das minhas asas quebradas, do meu coração alecrim. Me aproprio do canto e quando vejo no espelho, já tenho som!


Depois do susto e da falta de ar, silencio. Parece que de repente já não tenho mais palavras, porque esgotei os argumentos, as armaduras, as ataduras. Agora sinto, como um ritual bom de simplesmente ser sentido, a coisa não batizada me tomando desde os pés, pela espinha inteira, pelo bico dos seios, pelo cacho encaracolado caído meio torto nos ombros. Estou tomada, olhando pro meu desejo novo apelidado de inspiração.


Com mãos tão fortes, tão delicadas assim, se escreve em meu corpo uma nova oração que nem eu sabia ler. Um dialeto novo que eu acabo de me inventar. Estou vendada sobre um rumo sem direção. A culpa, afinal, é da vida, que insiste em ser maior do que caberiam nos meus planos bem cabidos, bem dotados. Já benzida, agradeço à arte que dá voz ao que está dentro, indizível!


Volto ao que fui antes, ao que me tornei desde esse minuto seguinte. Vou brincar de boneca, brincar de sonhar, brincar de ser feliz...