quinta-feira, 28 de maio de 2009

Primavera



Leve e doce ar de primavera. Sopro manso, toque macio de uma outra mão na pele aveludada. Frescor jovem dessa idade boa, do hálito morno de menta, da boca pintada de rosa, dos cachos jogados ao vento. A tarde se alonga cheia de cores, e o céu não tem fim. Notas cheias tocadas com melancolia saem de um violão que quase chora. Não tenho certeza de onde elas vêm, só sei que me invadem a alma e me enchem o peito de saudade... Mas não me interessa nenhuma explicação. O pulso é lento e o tempo espera. Sem pressa. Sem hora marcada. No caminho há uma cabana, e dentro dela uma noite longa...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Curiosa..


Eu queria saber do que a felicidade é feita. Há um tempo, eu achava que era feita de dançar até doerem os pés, dias ensolarados e duas bolas de sorvete de chocolate sem culpa! Eu queria saber do que é feita a comida da minha vó e a oração forte da minha mãe, além da sensação boa de estar em casa. Queria saber do que é feita a perseverança. Ela e a paixão. A tal da paixão, que eu jurava de pé junto que era feita de borboletas na barriga, de bochechas vermelhas, de encantamento, de trocar as palavras e suar frio. Eu queria saber do que é feita a ansiedade, a falta de sono, o medo, o desespero, o descompasso. Mas queria saber também do que é feito o sonho. E pra mim, era tão claro, que a minha idéia de sonho costumava se misturar com minha idéia teimosa de realidade. Eu queria saber do que é feita a saudade - e do que é feito o remédio pra ela. Queria saber por que existe solidão e tropeço, e tudo isso que dói um monte, mas que não me deixa mais ser a mesma. Eu queria saber do que são feitas as possibilidades, aquelas coisinhas que surgem invisíveis, aos milhões, ao romper de cada dia. Queria saber do que precisa para ser forte, e seguro, e dono de si. Eu queria saber do que é feita a lágrima, se é mesmo dessa água que escorre e lava tudo. Queria saber do que é feito o riso das crianças. Eu achava que elas riam pra mostrar pra gente que a vida é muito maior e mais maravilhosa do que a gente erra em achar. Não acho que crianças são bobas ou ingênuas, muito pelo contrário. Acho que elas ficam assim quando crescem. Queria saber que sensação é essa de “tirar os pés do chão”, e do que é feita a prosódia daquelas pessoas que lêem histórias pra gente dormir. Queria saber do que é feito o senso de responsabilidade, a percepção de mundo, e as coisas sérias que fazem a gente se perceber crescendo. Queria saber do que é feito o vento que passa levantando a saia rodada da menina baiana, aquela mesma, que só pára para pedir a benção ao pai. Queria saber do que são feitos pontos finais. E noites com sensações novas. E gestos. E rimas. Eu queria saber do que é feita a gratidão, e queria saber o que fazer para que meus amigos percebessem o quão grata eu sou a cada um deles. Eu queria saber o que há por trás de cada perda e cada ganho. O que há dentro de cada abraço. O que há fora de mim. Queria saber do que é feito o reflexo, o espelho e o estranhamento. Queria saber do que é feito o encontro - e aquilo que os poetas chamam de “sopro de vida”. Eu queria saber do que é feito o samba e as rugas na cara. Queria saber do que é feita a minha indecisão. Queria saber do que é feita a superficialidade, o que a sustenta? Queria saber o que significa aquele verso, aquela frase, aquele impulso, aquilo que me causa taquicardia, e que ta perdido, cada vez mais longe. Eu, que ando querendo saber...

domingo, 24 de maio de 2009

Na casa de Dorival



O colorido sonoro do mar.

Calor abençoado, bocejo mole...

Não sei fazer poesia, porque não sei juntar as palavras.

Aliás, de frente pro mar, eu não tenho palavras e nem queria ter.

Se tivesse, quebraria o encanto da poesia natural sussurrada pelo vento.

"Cabelo cresce"

Cortei o cabelo e chorei arrependida. O que isso fala sobre mim? Não sei se é dificuldade de deixar as coisas irem, não sei se é uma relutância às mudanças quase bruscas demais, não sei se simplesmente eu não gostei, ficou feio mesmo e eu tenho motivos justos pra ter me arrependido. Odeio assumidamente cabeleleiros. Eles e suas tesouras cortantes, mutiladoras, que se pudessem, deixavam todas as mulheres carecas! Eles chegam com um ar disfarçado, são gentis e engraçados, e eu quase me convenço. Mas eu sempre desconfiei que, lá no fundo, deve haver um quê involuntário de confabulação e complô que misteriosamente guia as suas habilidosas mãos ao (nosso) desastre total. E é tão rápido que num piscar de olhos, aquilo que demorou anos e anos para estar ali, já era! Simples assim! Sem nenhum alarde, sem nem sequer uma preparação. Completamente indolor (pelo menos momentaneamente).
O meu cabeleleiro foi um amorzinho como sempre, me fez até sorrir. Falávamos do programa de um tal de Netinho na TV, do telefone que não parava de tocar, de como a minha casa ficava perto do salão. Distraída, quando fui ver, já estava sem uma das metades mais importantes de parte de mim!!! (Muito malandro.. tsc tsc)
Agora estou tentando manter a calma e olhar o lado positivo dos fatos, porque meu pai insiste em me dizer que eu tenho que aprender a fazer isso para ser feliz. Óbvio, ele não tinha cabelos grandes! Acho que mais que olhar o lado positivo, agora eu tenho é que me acostumar com essa “nova” eu... (Se pelo menos o cabelo fora tivesse levado uma listinha de outras coisas com ele... Mas levou, não. E, não satisfeito, ainda me deixou nessa aflição de passar o pente e sentir que falta algo.)
Odeio cabeleleiros (já disse isso?).

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Romântica, sim!

Sou uma romântica tola. E acredito em relacionamentos feitos de Domingos no parque com bolinhas de sabão e algodão doce. Feitos de noites longas, luas cheias, poesias e todo o resto. Feitos de declarações de amor penduradas na porta da geladeira, rabiscadas no vapor do espelho do banheiro, colocadas secretamente em meio aos cadernos para serem achadas num momento despretensioso daquele dia agitado. Acredito, bem lá no fundo e sem querer assumir, nos infinitos contos melosos com pitada extra de açúcar. Odeio admitir, mas eles involuntariamente me fazem travar uma batalha exaustiva contra a lágrima prestes a cair (e depois que ela cai, desabo por inteira).

Sou uma completa ultrapassada. Acredito em relacionamentos feitos de par-ou-ímpar pra decidir entre japonês ou massa. Feitos de planos de 5 filhos, 4 semanas de lua de mel, 3 bolas de sorvete na mesma taça pra gente dividir, 2 pares de havaianas no pé da cama, 1 sonho maior que tudo no mundo! Acredito em relacionamentos feitos de gargalhadas com umas caretas bobas, banhos quentes com champanhe e espuma, excitação antecipada pelo fim-de-semana.

Eu sei o que as pessoas devem estar pensando. E para não dizerem que eu serei eternamente uma apaixonada só, devo dizer que acredito em tudo que é maravilhosamente real. Eu acredito nos relacionamentos que são feitos também de dias em que a voz fica mais alta, os nervos ficam à flor da pele e não se atende o telefone. Dias de chorar de raiva, de rasgar as fotos e as antigas juras de amor eterno guardadas na gaveta. Dias de não querer ver nem se ajoelhado, de não querer ouvir a voz, ouvir falar o nome! Acredito em relacionamentos feitos de momentos em que parece haver um abismo dividindo tudo. Em que há 5 mil motivos pra terminar de vez, 4 horas de dúvidas até decidir ligar ou não, 3 versões diferentes da mesma história, 2 mentiras que pareciam bobas, 1 porta na cara.

Eu sei que o amor não é feito só dos dias de sol. Mas quem disse que eu não quero correr o risco da chuva? Quero, sim! Quero tudo junto, se for de verdade, se valer a pena! E quero, fundamentalmente, jamais deixar de acreditar na beleza que há no encontro.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Frio!

Não sou fã de dias muito frios. As manhãs foram feitas para ter colorido, mas o que vejo ao abrir a janela bem cedinho do meu quarto (pra deixar o sol entrar) é uma variação das diferentes tonalidades de cinza. É uma triste constatação. Dias quentes, aprendi a achar ao longo do tempo, prometem algo mais. Acho que as pessoas ficam mais falantes, as crianças espirram menos, os tiozinhos que vendem sorvete na banca da esquina sorriem mais. A gente bebe mais água, vai mais ao parque e tem definitivamente mais disposição. Os dias quentes pra mim costumam vir com uma sensação intrinsecamente mais aquecida dos afetos (e eu me sinto mais bem humorada, devo dizer). Porém, não acho que dias frios são ruins, longe disso. Se tenho assumidamente uma preferência pelo calor, não deixo de admitir as maravilhas de ficar debaixo do cobertor, aquecida pelo tecido grosso e macio, envolvida por braços carinhosos que não desgrudam mais. Dias frios foram feitos pra gente ver que tem calor que precisa vir de fora, que o calor do outro também é bom (e como esquenta!). E é por isso que eu acho que se é que há mesmo um sentido escondido por trás dos dias mais gelados, que a gente não perca tempo só com aquecedores de plástico – que a gente se abrace mais, de um jeito mais longo, mais apertado, mais demorado, mais verdadeiro. Que a gente não dê só tapinhas nas costas e saia atrasado. Se for assim, eu faço até campanha pros dias frios!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Quadro

Não sei o que falta, se é que falta mesmo algo. Numa parede branca do meu apartamento tem um quadro que minha avó me deu. Nele, há vários sobrados finos e bem altos, pintados cada um de uma cor. Eles começam grandes, de perto, e vão descendo dos dois lados de uma rua de pedra que termina numa curva. Daí em diante eu já não sei mais. Os sobrados têm janelas grandes, como portas por onde se olha o mundo lá fora. Têm também telhadinhos marrons, que ficam debaixo de um céu azul. Eu moraria no meu quadro, apesar de não haver gente nele (acho que é ainda cedo, está todo mundo dormindo – ontem deve ter sido dia de Yemanjá e eles festejaram até tarde na beira do cais). Aliás, desconfio que há um cais virando a curva, e um mar tão grande que não cabe em si!

Enquanto olho o quadro, imagino uma moça descendo a rua (e ela parece feliz). Ela tem uma flor no cabelo, uma flor vermelha e grande, que combina com o colar de sementes vermelhas que carrega no pescoço. Ela traz uma sacola de frutas e fala com as senhoras que, de repente, aparecem na janela. E passa pelas crianças que gritam pela rua, pulam corda, se escondem atrás dos postes, desenham no chão a amarelinha. Ela veste um vestido de renda branco, com sandálias de couro que fazem parecer que ela está descalça. Fala com o senhorzinho de cabelo branco sentado na porta de um dos sobrados, que espera o outro chegar com o tabuleiro. Fala com uma moça jovem, de riso largo e andar rebolado, que desce pela rua chamando atenção dos rapazes. Agora ela pára no meio do caminho, porque de longe vem uma criança correndo ao seu encontro. É um molequinho cambaleante, que há pouco aprendeu os primeiros passos (mas já pensa que pode voar). Ele a alcança, a abraça, e ela lhe dá um beijo longo. O põe no colo e segue, agora em direção a um homem. Um homem com cheiro de peixe e molejo do mar. Com gosto de sal. Com ar de saudade....

Não sei ainda o que falta, se é que falta mesmo algo. Fico olhando o quadro e me pergunto...

domingo, 17 de maio de 2009

Grito surdo



Tem dias em que não consigo escrever, as palavras simplesmente não saem. Tomo um banho, tomo um café, tomo coragem, sento pra falar, mas nada sai. Seria simples se eu colocasse a tampa na caneta, fechasse o diário e dormisse em paz. Mas não, algo engasga forte no meu peito. Eu me sinto perplexa, e esse é o sinal irritante de que tenho que colocar algo pra fora. Talvez seja falta de inspiração, mas a questão não é mais saber ou não juntar bem as palavras – a questão é apenas cuspi-las pra fora, sem requinte, sem meios sentidos, sem trocadilhos inteligentes demais. Quero apenas tirá-las de mim, me dar um tempo pra descansar do turbilhão acelerado que se forma aqui dentro.

Nesses momentos em que perco o tom, não sei nem por onde começar. Começo e logo já não estou mais sabendo do que estou falando. Desisto e começo de novo, um outro começo, mais descompassado ainda. Não faço o menor sentido. Talvez porque falar não vá resolver mesmo a angústia apertada. Mas o que resolve, então?!

...

“Rimas fáceis, calafrios, fura o dedo, faz um pacto comigo...”

Menina baiana

Porque menina baiana aprende desde cedo que pra ser feliz tem que sorrir, e tem que dançar, requebrar as cadeiras, remexer os quadris e se deixar levar.


E menina baiana aprende também que "dia de Domingo" é religioso... Dia de deixar o sol chegar, cair no mar, deitar na onda e esquecer de tudo*.

Menina baiana aprende desde que nasce a cirandear, a rodopiar, ser poesia. Põe a saia rodada, a fita no cabelo, o sorriso no rosto e vai pro mundo.

E menina baiana aprende logo logo que tempo ruim não existe!
Que tristeza é ventania que passa logo, e bom mesmo é enfeitar a tarde com um arco-íris.

Menina baiana aprende que festa se faz todo santo dia... Mesmo!
Festa ao conhecer gente nova, festa ao receber notícia boa, festa ao festejar a vida!

Ah! E menina baiana aprende especialmente a não ter pressa...
E fala "oxente!", "que Deus me livre", cruza os dedos e se joga de corpo inteiro.


Menina baiana quando sente, sente de verdade. E aprende que é disso que é feito o viver. De sentir.

Porque menina baiana aprende que o mundo é gigante, mas que ele cabe na palma da mão...

Casual

Eu acho que eu gosto é da casualidade. De não estar esperando, nem planejando, e me surpreender. De viver a tal da oportunidade que eu já havia tentado incansavelmente criar até eu desistir, e me conformar, e deixar pra lá. Aí, ela vem. Simplesmente vem. Quando eu menos espero, quando a preocupação e a ansiedade não mais existem, quando um milhão de outras suposições ocupam meus pensamentos. Eis que ela surge, silenciosa, calminha, sutil. E cresce exageradamente, até se tornar o acontecimento do dia! Inesperada. É assim que eu gosto. Quando ela vem sem nenhuma pretensão. Quando não tem promessas, nem obrigações, nem expectativas. Quando ela vem, porque quer, porque aconteceu, porque no jogar de dados do acaso, assim ele decidiu! E é delicioso, porque nesses momentos, eu percebo que não estou no controle de tudo... E nem preciso estar! Por que a vida, por ela mesma, tem o seu curso, e, sim, na casualidade, mais cedo ou mais tarde, ela concretiza todos os nossos desejos. Afinal, toda manhã é um prato cheio pras possibilidades do nosso destino.

Razões

Cada um tem suas razões. Acabei de ouvir isso de um sábio amigo meu que ficou até as quatro da manhã aqui em casa, fosforilando sobre a vida, sobre o existir, sobre o outro... Mas o difícil mesmo é entender essas razões de cada um. Todo mundo tem o direito de sentir. Sentir medo, tensão, desejo, tesão, sentir pressa, sentir fome, sentir raiva, sentir sono. Sentimos o tempo todo, e vivemos assim, permitindo ou não sentir algumas coisas. E damos nomes, marcamos hora, enquadramos nossos quereres, como se eles tivessem que seguir uma cartilhinha de certo e errado. Malditos contratos, regras ou o que seja. E aí, quem diria, criamos caraminholas na cabeça acreditando que alguns dos nossos desejos são dignos, outros não... Será então que agora a gente não pode mais sentir, simplesmente? E é por isso que colocamos tudo na balança, pesamos as supostas conseqüências, o que vale mais, o que queremos menos, e, pimba! Fazemos uma escolha... Irrevogável... Que nos torna eternamente responsáveis por uma decisão. Aff, quanta responsabilidade! No fim, parece que a gente nem mais escolhe, porque arriscar é difícil demais, dá mais medo ainda, e a escolha dita como acertada já é previamente estabelecida como “senso comum”... Afinal, quem não quer ser perfeitinho?! Mas sabe de uma? Na verdade mesmo, o que a gente tem que ser é honesto. Justo com a gente! Diante das opções, não há certo ou errado, há caminhos, rumos, e a gente vai levando a vida do jeito que a gente achar que vai mais nos fazer feliz. Tou encarando aquilo que for me trazer mais sorrisos..., quem dá mais?! Sei lá... O ideal mesmo era que a gente vivesse da tal da espontaneidade, por que ela, sim, dá margem a se ser do jeito que se quer ser, leve, sem carregar culpas sociais, julgamentos, repressões, obrigações ou... qualquer besteira. Queria mesmo ser uma borboleta.

Sobre os dias

Eu ando com medo, eu ando alerta, entrelaçada em mim como nunca antes
Ando com a pressa de despedir-me, de encontrar-te, de inundar-me naquele cais
Ando fazendo planos, alucinando-me, como sou tola, e nada sei
Acreditando numa certeza que eu inventei, pra te criar, pra me inventar,
me desdobrar e nada mais
Eu ando correndo, ando dançando, me esculpindo, me destilando
Ando traçando um rumo norte, sem outra sorte, sem te descobrir
Ando chovendo, ando molhado, acreditando em mais nada, sério
Me coroando, me desprezando, seria o certo estar por perto,
mas não está
Ando rezando, desesperada, ando encontrando uns braços quentes
Uns braços raros, uns bem mais rápidos, e no final, eu passo frio
Eu ando nua, ando sozinha, procuro a ti, procuro paz
Me vejo seca, toda vazia, e por inteiro, eu grito mais

Sobre os gostos















Eu gosto de sorrisos e de toda a poesia implícita neles. Gosto dos olhares de longe, aqueles que timidamente falam tudo. Gosto das intromissões não planejadas de certos pensamentos naquelas horas mais inesperadas, e gosto do gosto forte do café num dia sonolento. Eu gosto de imaginar momentos que seriam perfeitos para pano de fundo de algumas músicas. Gosto de barras inteiras de chocolate. Gosto de conhecer pessoas, de entender certo assunto que estava complicado demais, de alugar um monte de filmes e ver um atrás do outro. Gosto de chorar no cinema. Gosto de comprar toda semana uma flor pra enfeitar minha casa, e gosto da idéia de ter uma casinha colorida na praia, bem simples, mas que caiba meus futuros filhos e suas histórias. Gosto de mim quando estou na minha terra, no colo da minha mãe, naquele cantinho só meu. Eu gosto de me sentir leve e em paz, como gosto de ficar olhando o mar me perguntando até onde ele vai. Será que ele tem fim? Certamente tem alguém, lá longe, do outro lado, olhando também. Gosto de escrever minhas sensações, na mesma intensidade que gosto de senti-las. É por isso que eu gasto tanta caneta. Gosto de recadinhos carinhosos em pedacinhos de papel e gosto de dias em que posso simplesmente estar com meus amigos. Gosto de fotografia, gosto de livros escritos em primeira pessoa, e gosto de cartas escritas a mão, com borrões e tudo mais. Gosto de dormir, de pegar no sono logo e ter sonhos bons, como gosto de acordar cedinho, olhar o céu e ver o sol. Gosto de viajar. Muito. Gosto de ter tempo ocioso, mas gosto mesmo de estar cheia de coisas para fazer, e da sensação de quando termino de fazê-las e deito no sofá. Gosto de jogos de tabuleiro, principalmente quando estou ganhando do meu irmão. Gosto pedir uma colher a mais e dividir a sobremesa com alguém. Gosto da ansiedade de encontrar. Gosto das despedidas demoradas, aquelas que não querem dar até logo. Gosto do cheiro daquele perfume, da cor daquela cortina, do toque... e do sorriso. Ah, como eu gosto dos sorrisos...

Sensação II


Tenho me descoberto, e me surpreendido com meus próprios gostos, com meus desejos contidos, com minhas idéias loucas. Tenho evitado gritar minhas emoções, tenho tentado apenas vive-las calmamente, porque se gritasse cada uma, perderia a voz. E às vezes não dá para silenciar, soltam-se as sensações, e escapam em forma de pulos, risos, representações espontâneas de uma vontade de não mais me esconder, de não mais caber em mim de tão grande. Tenho esperado ansiosamente algo que eu nem sei, e tenho tido paciência, em meio a impulsos banhados a olhares de “agora já foi, essa sou eu!”. Tenho prendido momentos meus, minutos meus, rezando pra que eles durem toda a eternidade. Uma outra vez, quem sabe. Tenho fugido da realidade, porque esse mundo que eu criei é muito mais a vida que eu queria ter, a tal vida que eu descobri e não queria mais conter.

Sentido

Não faço o menor sentido. Nas minhas variações indefinidas e constantes, nas velhas questões existencias que me acompanham eternamente, na ansiedade louca, nas milhões de tentativas frustradas de parar de roer as unhas e pensar logicamente! Não sei o ponto médio. Eu explodo ou silencio, sem nenhum aviso prévio. Mas o que eu gosto mesmo é de sentir. Aos pouquinhos eu tou aprendendo que viver à flor da pele tem lá suas vantagens. Que não tem problema em chorar com propaganda de banco e que eu não preciso parar de sonhar para ter os pés no chão. Que sorrir é encher a vida de uma promessa gigantesca de felicidade, é se colocar à disposição, é querer ser feliz! É abrir as portas, as janelas, é se escancarar pra vida!

Não quero fazer sentido, porque assim eu pararia de tentar entender. E pararia de me surpreender, de me atirar vendada morrendo de medo, de me arriscar em mim mesma...Só sentindo.

sábado, 16 de maio de 2009

Eu

















Risos de canto de boca. Olhares timidos, que falam mais que os cotovelos. Bochechas vermelhas, borboletas na barriga, frio na espinha.. O mundo inteiro! Suspiros baixos, voz rouca, meia luz e solidao embora. Dias que amanhecem logo, cheiro de casa, colo de mae. Musica, musica, musica. E poesia. E sorvete. E abraço apertado. E a sensação boa de que estou protegida.

Sensação














Sou baiana. Tenho 21 anos e um milhão de sonhos. Nasci de pais que se conheceram no Carnaval, e que são meu maior exemplo de vida, de amor, de força e coragem. Aliás, tenho que dizer, não sou corajosa, apesar de todo mundo teimar que eu sou. Como também não sou bem resolvida, nem madura, nem nada. Eu sou uma criança, e não me incomodo com o fato de não ter crescido ainda. Eu tou buscando uma coisa que nem eu sei explicar ao certo o que é, mas que se tivesse um nome, o mais próximo seria... Liberdade!

Atualmente eu vivo em São Paulo, e vou ficar aqui por mais uns anos. Só mais uns. Eu moro só, com um jacaré de pelúcia que ocupa a minha cama inteira, e agora uma vaca branca, azul e preta, que, inclusive, namora a vaca branca, rosa e preta de uma amiga minha. A gente comprou elas juntas, numa viagem que a gente fez com mais outras duas amigas (uma viagem que, de tão perfeita, até agora não me parece real.) Pensar naqueles dias me faz rir. E rir é uma das coisas que eu mais amo na vida! Um dia desses, eu ri no meio de uma aula de Genética, porque lembrei de um momento especial, e foi uma delícia ter esses segundinhos só meus... Adoro quando o acaso me surpreende com uma recordação boa no meio de um dia chato.

Recentemente eu descobri que gosto de fotografia, que amo preto-e-branco, mas que, definitivamente, não sirvo para fazer poses. Se pudesse, teria mais paredes em casa, para colocar mais quadros, mais colorido! Um dia ainda aprendo a usar esse monte de cores, ainda aprendo a transforma-las em sentimento... Ou vice-versa. Desde pequena eu fiz trocentos mil cursos pra ver se desenvolvia meu lado artístico, criativo: aulas de teclado, de costura, de bordado, de violão, de ballet, de canto, de desenho, etc – não adiantou muito, porque o que eu sei fazer bem mesmo é dormir!

Não gosto de hospital, nem de sofrimento, nem de dor – mas não me enxergo trabalhando com outra coisa na vida, senão com essas pessoas que precisam, acima de tudo, de amor. Um amigo me perguntou uma vez como seria o mundo perfeito pra mim, e foi bem difícil descrever... Só sei que certamente todas as pessoas, invariavelmente, teriam oportunidade de ser o que quisessem. É engraçado, porque até eu mesma, hoje, estou bem longe de saber ao certo o que eu quero ser (quando crescer) - mas eu fantasio, sim, uma penca de filhos correndo para o mar num dia de sol. E uma casa com muito verde, e beija-flor indo beber água no quintal, e vento balançando a cortina estampada da janela. Como imagino tudo com som, com trilha sonora, com ritmo, com um tom único e especial. Aliás, tenho escutado uma música ultimamente que tem me feito desejar um algo novo, indescritível, inexplicável, mas que eu quero, e muito. Chama “Sensação”.

Não quero mais fingir.


Não quero mais fingir. Nem quero fazer como se tudo fosse pra sempre. Não é. A verdade é que tudo é pra agora, e com bastante pressa. Todos os meus desejos urgem, e me explicitam a alma. Quero rir. Rir desesperadamente. Rir daquele jeito que faz meus olhos brilharem e transparece tudo o que há em mim. Quero respirar o mais fundo que eu conseguir, até sentir os meus pulmões vivendo. Quero enxergar mais com ele, o coração. Quero ser uma canção boa, daquelas que fazem a gente fechar os olhos e dançar. Quero tomar banho de sol, banho de chuva, banho de mar, banho de espuma, banho de sal, banho de vida! Quero virar a esquina e encontrar um arco-íris, e quero gritar pra todo mundo ouvir a mais pura verdade de ser eu, sem vergonha, sem medo. Sem a menor ansiedade. Quero contar uma história bem contada, com os mínimos detalhes e uma gargalhada no final. Amanhecer com uma sensação de ontem, e outra de daqui a pouco. Quero entardecer com uma surpresa boa, e descobrir tudo o que há, ao anoitecer. Quero ver a lua, pisar nas nuvens e enfeitar todo o céu. Quero aproveitar a tinta e colorir o dia de alguém. Não quero mais me esconder. Nem quero fazer como se tudo fosse um julgamento. Não é. A verdade é que tudo é mesmo pra agora. Tenho pressa. Mas tenho, também, todo o tempo do mundo...

Riso



Andei ensaiando um riso novo. Pus a mesma música e desatei a abrir e fechar a boca, na tentativa de encontrar o meu riso mais largo, o meu riso mais riso. Não funcionou. Talvez a música não fosse aquela. Mudei o cd, e ainda assim, o riso não veio. Tanto não veio como ainda deu lugar a uma lágrima, maldita lágrima! E daquela lágrima veio o choro, o soluço, e a necessidade de um pano para enxugar o rosto. Talvez não fosse aquele o jeito certo de sorrir... Santa inquietação! Senti saudade de umas motivações antigas, bobas, que me faziam estremecer involuntariamente. Cavocando lá no fundo, elas me aparecem na retina novamente. E eu lembro... Pronto, estancou. Levantei do sofá, saí na porta, e não é que ele veio? O riso...

Compõe e decompõe

A vida é essa mistura de vale tudo. Se tenho nos meus atos assinaturas que reconheço, não sei. A mim me serve qualquer coisa, ou pelo menos é assim que eu vou levando. Ao som do Paulinho Moska constato, “tudo se compõe e se decompõe”. E de castelos de vidro vamos vivendo, fantasiando nossos sonhos em desertos só nossos. Ando em cacos, pisando em ovos, recompondo as pequenas coisas e montando o quebra-cabeça. Montando a mim mesma. Tá mexido e confuso. As coisas boas eu ponho no bolso da calça jeans, escondidinho. Das ruins, me escondo eu. E quando elas me pegam, me levam de jeito.

...

Deixa o garoto ir um pouco embora, virar homem, maturar-se, transformar-se, encontrar-se. Qual a beleza da criação? Meus labirintos se perdem neles mesmos, me sobra o nó, que eu não desfaço. Pergunto eu, desse lado aqui: jura, você, pra mim? Peço com jeito, com essa fraqueza boa, essa vontade mole de deixar nas suas mãos. Enquanto o mundo vai rodando, eu me jogo...

Uma página que nunca acaba.



Uma potente sensação de qualquer coisa me submerge. Entre raios de luz e a tentativa de deixar o sol lá fora, a paz e o abismo. Ao sabor de inspirações subjetivas me faço viva, e aí, nos cinco minutos daquilo que me toma, eu viro eu. Só eu, absoluta. E quando o encanto acaba, volto aos passos frouxos, à velha dúvida de sempre, aos suspiros cansados de todo dia. Eu gosto mesmo de mim é quando eu explodo! Rio de mim, do sopro da música e da batida forte no peito. Gosto do limão, de CDs, luzes que piscam e sorrisos de canto de boca. De chuvas de verão, conversas no corredor e palavras não ditas. Uma nova perspectiva toda vez, pra pegar outro fôlego e encarar a falta de ar. E a tal página que nunca acaba.

“Depois de duas horas de doce insônia, durmo calmamente...”

Se...?

Se eu fosse mais alta, mais magra, mais provocante, mais educada, mais durona ou mais bem resolvida. Se eu fosse menos chorona, menos multifásica, menos exagerada, menos devoradora de chocolate, menos piegas, menos surtada. Se eu fosse só um pouquinho mais segura ou se eu não tivesse tantos problemas com relacionamentos (ou melhor, com a falta deles). Se eu fosse sensata, só pra variar. Se eu fosse mais rápida com piadas, enigmas ou contas de multiplicação. Se eu fosse menos repleta de fantasias bobas, se eu acreditasse menos em sonhos pintados de cor de rosa - os sonhos adocicados e os amores gentis. Se eu não sentisse tanto frio. Ou tanta vontade de dormir um pouco mais. Se eu não precisasse gritar silenciosamente meus monstros diariamente, se eu não precisasse recorrer tanto aos meus amigos para me sentir viva. Se eu fosse mais linear, mais estável, mais sedutora, mais fácil de entender. Se eu roesse menos as unhas. Se eu trocasse menos as palavras. Se eu chutasse mais a letra certa (se eu fizesse mais a coisa certa). Se eu fosse mais esperta, mais forte, mais solucionadora de problemas, mais perspicaz. Se eu gostasse menos de dias preguiçosos em que posso simplesmente abstrair do mundo. Se eu fosse menos atrapalhada, menos enrolada, menos esquecida, menos desatenta. Se eu não demorasse tanto para tomar decisões. Se eu soubesse a resposta de todos os meus infinitos questionamentos. Se eu soubesse ler as pessoas por inteiro. Se eu não perdesse tanto tempo me preocupando com besteira. Se eu gastasse um pouquinho mais com quem realmente vale a pena. Se eu soubesse fazer serenatas de amor, cartas de amor, ou pães em forma de coração. Se eu não derrubasse tanto as coisas no chão, se eu não me rabiscasse sempre com a caneta azul quando estou anotando alguma coisa no meio da aula. Se eu não precisasse tanto de café. Se eu não precisasse tanto ter alguém. Se eu não tropeçasse com saltos muitos altos, se eu não manchasse a minha camiseta branca com molho de tomate. Se eu admirasse mais o céu, o sol, as estrelas, a imensidão da lua. Se eu soubesse cantar bem, ou rodopiar na ponta dos pés, ou dançar juntinho, ou escrever poesias de amor. Se eu fosse mais mulher e mais avassaladora. Se eu soubesse arrumar meu cabelo de um jeito bonito. Se eu fosse menos desengonçada, menos estabanada, se eu esbarrasse menos nos outros quando eu ando apressada. Se ao menos eu comprasse a marca certa de shampoo. Se eu parasse menos para checar as horas (porque isso não funciona mesmo, eu sempre chego atrasada nos lugares). Se eu aproveitasse ao máximo as horas a mais. Se eu sorrisse invariavelmente para todas as pessoas, inclusive nos dias ruins. Se eu soubesse fazer meus pensamentos (só os positivos) virarem realidade. Se eu não fosse esse projeto incompleto e cheio de borrões que tenho sido...

Mas eu me pego aqui, agora, pensando... E se? Se tudo isso fosse diferente?Não sei... Acho que não seria eu. Na plenitude das minhas imperfeições, eu. Nas minhas variações loucas e inexplicáveis, nas minhas coisinhas só minhas que, definitivamente, já estavam carimbadas em mim desde a barriga da minha mãe. Sou essa, explícita, desse jeito assim. O resto é só suposição.