domingo, 30 de outubro de 2011

"...E o meu perfume na rosa dos ventos..."

Meu corpo nu, solitário, numa cama pequena cheia de cobertas. Essa noite é de silêncio, de barulho de chuva e escuro. Tento não pensar, mas meu corpo não deixa. Me invadem pensamentos sussurrados, lembranças doces de um beijo, aquele beijo, e todos os outros. Os olhos que piscam à convite, o lábio fino que preenche, a delicadeza do toque. As milhões de coisas ainda não ditas, a começar pelo desejo, e o seu acontecer sem limites, sem tentar segurar o impulso involutário da pele. Quando o sono vem, ele traz a paz de mãos dadas.
Menina pouco contida, quer levar cor a uma noite sem estrelas. Presa em sua própria armadilha, a fada madrinha agora tem olhos sem promessas. Resta o caminho inteiro, passos condicionados pisando uma terra seca sem outras surpresas... Ilusão achar que não estava sobre cordas bambas. É quando vem a chuva molhar o rosto, trazer o riso, florescer os lírios e o esquecido. Caem do céu palavras em forma de poesia. No riso, a lágrima, cachos de três cores diferentes misturados a um preto cor madrugada. As pernas como entrelaço, cobertor de gente, transformando em verdade a urgência. Pra fora da janela não existe coisa qualquer com importância.
Menina muito contida, tamanho contido, vestido contido, transformando a noite fria em fogueira ardente. Fala menos com a voz que com o resto. Marcas discretas no rosto porcelana, sem a menor pretensão de parecer menos forte do que realmente é. Pálpebras leves guardando os olhos, permitindo que o cheiro, e só ele, invada o espaço e sirva a que veio. No pulso firme não há relógio, não há pressa para que se dêem os fatos. Tudo ao seu tempo, contrapondo o ruído de desquilíbrio ao redor. Monstros que cantam a sua sinfonia, respeitando a ordem natural em que a vida impõe os fatos. Sobra o que se tem agora, e o que se tem é o beijo. Enquanto possibilidade, ele é melhor que tudo.
Você que me faz cantar...
Para além da boca há o seu nome.

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