segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Repercutir

Gosto dos óculos e da roupa preta com sapatilhas baixas, miniatura. Dos olhos pequenos desviados para o teto, tentando pensar um jeito de não se deixarem tão facilmente transparecer. Nos cômodos todos, livros, livros, uma foto do que foi, do que deveria ainda ser, e um monte de santinhos lembrando sempre a mesma prece. Há ali um silêncio que preenche todo o espaço, sussurra os passos pelos cantos, e revela nua a alma.
Uma flor cheia de intenções habita a garrafa de água fresca em cima da mesa. Na geladeira, lembretes de restaurantes, desses que facilitam a vida dos que não têm a perder. Há lembretes por toda a casa. Lembram da dor, da solidão, do ar irônico, da doce timidez, dos pensamentos trêmulos, do quase desejo. O espaço todo na verdade é o labirinto - quando se adentra, não há como sair. Nem que se queira.
Mais fácil assim, à meia luz deixar que as estantes falem por si. Mesmo para observadores ruins, a voz viva grita tão suave seus deliciosos segredos, que não há como deixar de ver. De todos os sentidos sutilmente explorados, restou apenas a iminência do toque. Ah, o toque... Riso e choro se confundem na mais honesta manifestação do que habita o peito. OS subterfúgios não servem mais para nada. Diante de uma imponente idéia quase amedrontadora, desconstroem-se todas as defesas, e agora, às quase duas, é um caminhar leve sobre as águas.
Aguardo o despertar de quem decidiu não fechar os olhos. Porque fechados deixariam de ver através da doce sensação de se sentir inteiro, eles que não desmentem mais o jogo de palavras. Sim, repercute ainda agora em mim. O secreto explícito discurso do olhar...

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