sexta-feira, 11 de maio de 2012

Noite escura, leva.

Essa noite mistura tudo que há em mim, turbante azul na cabeça, pés descalços no asfalto, um salto na ponta dos pés para a natureza morta ao redor. Na boca, o gosto maracujá com saudade. Vento quase morno, quase frio, janela aberta, música, luz vermelha, luz da lua. De repente, a minha garganta que não sabia mais gritar explode seu desejo de chegar até aí, seus ouvidos que não me querem ouvir. Eu grito mesmo assim, fazendo desenhos com a mão, com o corpo, e esses cabelos todos livres flutuando minha vontade incontrolável de voar. É tão bom sentir que dói...
Flashes vivos cortam meus sentidos na escuridão, abro os olhos e ainda lá está você puxando o meu pecoço para os seus dentes, o carro parado numa rua dessas qualquer. Voltei aos lugares dos passos tímidos sem mãos dadas, descontruí os medos, imortalizei a perda, e sobrou somente a dança livre, o esvoaçar do vestido longo, a lembrança do vestido que queria ter deitado no seu chão, e permaneceu em mim. Danço para a platéia livre dos viadutos e calçadas, danço para mim mesma, e assim me sinto inteiramente viva.
Divido uma avenida enorme com automóveis desesperados, sussurros surdos, um gato branco que só observa, chegando mais perto. Divido com olhos que sorriem, botas pretas, postes de iluminação romantizando a sujeira urbana da cidade que resolveu, só nesse segundo, parar. Dia bom para os justos, e para os sem vergonha de boa intenção.
Até ela, madrugada, dorme, e leva embora os devaneios concretos por debaixo da roupa, a permissão boa de sentir sem nem que você saiba. Quero um enterro digno para os meus bichos, mas eles insistem em habitar visceralmente meus impulsos impossíveis de conter. Não largo o osso. Quero pra mim o que foi meu, o que foi nosso e ainda existe. Enfurecido e calmo.

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