sábado, 23 de março de 2013

Baby

Primeiro eu compro uma vitrola e acho um professor para tomar aulas de francês. Caminho meio sem rumo por uma avenida cheia de prédios, exagero nos cafezinhos que me permitem pequenas pausas, aquelas que a gente faz apenas para respirar e sentir. Assisto Tolstoi num fôlego só, fixo a atenção em um específico olhar. Escolho mil vinis, conto as novidades de ontem, tento segurar a mão. O sabor do gesto, o toque calmo quase sem tocar.
À noite eu desejo dormir e sonhar um sonho bom. Sou inteira trivialidades, um Manoel de Barros barroco, sutil nas desimportâncias, tipo as batatinhas roxas de uma poesia que mudou a minha vida.
A vida. O mar. O vai-e-vém.
Chego em casa e ela ainda tem cheiro de ontem, tiro os sapatos, ouço a mesma música repetidas vezes. Deixo tudo escuro, tenho saudade, chego a discar. Parece que me falta verbo. Há algo que não sabe sair, engasga, retorce, e fica. Por fim, descubro gostar da solidão...
De vendas nos olhos, aponto um lugar aleatório onde devo estar, entro na casa antiga com nome de flores, molho os pés com pingos leves da chuva forte. Aguardo a resposta de algo que precede à pergunta. Exercito parar. Silenciar. Ser, e não.
A vitrola, o francês, a escrita falha, um coquetel de auto revelações legitimando pequenas verdades sobre mim (verdades estas que para saber, basta olhar). No fundo eu aguardo o escancarar de uma vez só, o encontro de ouvidos gentis e dispostos, mãos, boca, ausência de  medo. Para que eu possa caminhar junto. Para que eu mande embora e deixe ficar.

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