domingo, 29 de julho de 2012

Monet

A minha ilha hoje abriga os ventos frios da dura constatação de que, sim, eu sou um ser só. Vento que sopra o ar seco dos seus cabelos, que perderam o perfume para os suspiros de outro alguém. Dissabor. Existo enquanto fonte de sonhos melhores do que eu sou agora, motivo maior para eu sair do lugar comum e crescer. Mas nada tão óbvio me veste bem, a verdade é que eu espero palpitação, suor gelado, hesitação... E o que tenho é parede de tijolos frios.  Habito um pedaço de terra onde só cabe eu, um ego restrito, talvez não tão restrito assim. Há uma ilha vizinha que costumava soprar vento doce, cheiro doce, mas agora não chega nem perto de mim. Desenho uma casa de vidro, de onde posso admirar todo o esplêndido, sem tocar. Sem sentir. Sem nunca mais arrepiar. Porque já me disseram uma vez, a gente muda, e traz junto uma sacola nova de prioridades. Talvez agora eu precise apenas de paz.  Não concordo com meu pensamento racional de que ser só é, para além de uma escolha, uma constatação. A verdade é que a gente tem uma sede perene em dividir, porque só assim aflora o que há de extraordinário do lado de dentro. Sou mais bonita quando choro olhando nos olhos. Meus olhos tristes sendo vistos por um alguém que faz valer, palpitação, suor, hesitação. Clichê. Paixão. Vento que hoje sopra sem saber, me leva.

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