quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Acabo de entrar em casa, escuro, silêncio, sofá vazio. Cheiro de ontem. Mantenho tudo assim, intocado, enquanto encolho num pedacinho pequeno do colchão frio.
Queria bater na sua porta depois de um dia difícil, seu apartamento naquele prédio alto de onde se vê a lua e as outras luzes. Queria ir entrando, assim mesmo sem pedir licença, ir tirando o casaco e os sapatos, antes mesmo do beijo de oi, que você nunca dá. Queria deitar na sua cama grande demais com o travesseiro gigante, e ficar encolhidinha nos seus braços, sem precisar explicar coisa alguma, só respirando o seu calor.
Queria voltar lá naquele lugar bonito cheio de bolas no teto, preencher o cartão fidelidade que o moço deu da última vez, e que a gente prometeu encher antes mesmo da validade vencer. Papelzinho no meio da minha carteira, esperando os carimbos das noites cheias de sabor e promessas...
Queria te chamar de meu amor. Meu. Amor. Sussurrar em seu ouvido a saudade de agora há pouco, do seu riso que ouvi de perto e de longe, sua mania de me fazer corar. Queria apenas dormir, acordar e ir tomar café da manhã, com suco, pão, banana e mel. Você, olhando pra mim por cima do seu jornal, ou do livro que você comprou recentemente porque gostou do que estava escrito no final. Queria contar pra você uma bobeira que o meu irmão falou, e me aqueceu o coração. Dizer que hoje eu quis ser mãe; que estou com uma cólica que não passa há 12dias; que eu roí as unhas sem querer.
Queria te esperar de pijamas, pantufas e aquecedor ligado, pra vermos aquele filme que está nos aguardando há séculos. Queria te esperar vestida apenas de pele e desejo. Velas, parede, pescoço, mais desejo. Um sofá pequeno o suficiente, horas inacabáveis, a boca na nuca, e toda a delícia de ser. Queria outro dia de sol, cerveja, seu carro parado naquele sinal fechado, eu te roubando um beijo. Queria mil beijos. Todos os beijos...
Queria arrumar as malas praquela cidadezinha que você prometeu me mostrar, pra onde nunca fomos com medo de sermos felizes demais. Queria ligar pra você agora e pedir pra comprar um doce antes de chegar aqui. Ou trazer um daqueles de monte que você tem e não come nunca. Roubar a caneta que você rouba de outra pessoa. Te levar um envelope, te pedir pra escrever o meu nome completo num convite que vou mandar pelo correio, pra bem longe... Ir com você pra mais longe ainda.
A minha casa espia os meus segredos, cúmplice de todas as minhas fantasias bobas. Há em mim uma doçura em lembrar da sua mão em minha mão, seu rosto me olhando de perto, e todo o resto que é só nosso. Real e nosso. Alimento os pensamentos que não te deixam ir embora, porque é bom quando você está perto. Aqui, sozinha, redescubro todos os sentires. Eu, que achava que não sabia amar... Hoje sou interamente feita de querer...

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