sábado, 6 de outubro de 2012

Ponto e vírgula

Gosto doce da bebida forte, mar de rosas sobre o chão. Tua. Ainda não anoiteceu e eu desejo estar em outro país. Bethania grita a sua rouquidão, dançando lá de pés descalços, e eu retribuo em minha sala vazia com móveis demais. Rodopios e lágrima.  Ziguezagueio uma conversa convincente, pitadas nuas de um bem querer que só se contradiz. Volátil. Meus dias não comportam mais maquilagens, saltos altos, olhos oblíquos - e coisa e tal - e eu ignoro a presença incômoda do espelho. Penso em escrever no meu corpo uma frase que signifique tudo que não sou por falta de coragem - quem sabe assim, por insistência da imagem, cada palavra comece a valer mais que mil, me convencendo, por fim,  do fato. A verdade é que tudo está à flor da pele, mas eu me cubro com panos demais. E nem está tão frio...  Gosto das páginas à espera, outro mundo onde não estou, mas posso entrar sem ser notada. Entro. Sento no sofá de couro verde, espio todas as frases entrecortadas. Minha perspectiva é inteira íntima, dou cadência ao que deve ser, sem realmente me preocupar. Apago as luzes e já não faço parte. Nessas horas sei ao certo que não gostaria de viver aqui. Sem novidade qualquer, confetes na varanda, lua cheia ou promessa pra depois. Arrastada, vejo pedaços meus ao chão especulando a primavera através das janelas altas. Inalcançáveis. Na minha boca, ecos do gosto doce. A voz. A lágrima. O ziguezaguear. E toda a verdade íntima e nua que, por ora. só eu sei...

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