segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Querida. Clarice.

Comigo funciona falar menos, até mesmo não falar. Há um ano e meio, um pouquinho mais, minha boca não podia abrir tamanho o espanto em me descobrir assim, corações palpitantes, uma tatuagem com a poesia brasileira, uma peça de teatro em que transitamos pela casa dela mesma. Esse último Domingo comemos massa e tomamos vinho, gente estranha e próxima, lado a lado, tentando a sutileza da intimidade de outros dias, de antes.
Adiantem os relógios, e adiantem também a vida, porque cada dia é novo e diferente do outro. Minhas mãos contam mil histórias, e eu as carrego dentro dos bolsos, por entre as pernas, debaixo das toalhas de mesa. Um anel igual, o presente. Familiar mesmo é a sensação de olhar as ruas correndo através da janela, enquanto todo o resto pára. Absorta, sou engolida por essa fumaça que traz pedaços do caminho todo, recordações de gostos, cheiros, piruetas no meio da estrada, biquinis de lacinho em dias de sol. Coisas pelas quais vale a pena ficar.
Acarinho meus pensamentos, aceito o convite, porque na verdade não sei bem como ir. Hoje, meu coração quer apenas dividir a sobremesa e dormir em paz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário