sábado, 15 de dezembro de 2012

_KEEP WALKING_

Lembro do dia em que meu samba chamou, eu ainda sem muita certeza se podia usar a cor inteira a meu favor. A voz rouca à meia luz, copo de vidro sujo de batom cor de rosa. Lembro do dia em que vesti o preto, por fora e por dentro, mas na manhã seguinte fingi que não queria mais e me fui. Sentada no divã, deixei que escorresse.  A vida repousa ao meu lado com uma cantiga nostálgica, doce, permitindo que tudo seja. Eu, fantasiada de mais. Acreditando ser mais. Até cessar. Lembro de noites calmas com braços ao redor, eu pensando querer para o resto das horas aquela mesma paz. Volta e meia sonho com ela, desliza uma falta resignada da tão falada paz que, eu sei, dentro de mim não há de existir.  Hoje não há lembranças, nem de antes, nem de depois, porque meu corpo paralisou diante do caos. Roupas pelo chão,  rabiscos pelas paredes nuas, eu, por toda a parte aos pedaços. Fluida. Fria. Vazia... Lembro do pôr do sol nascente, a dúvida entre um beijo e mais. Lembro de roupas brancas e apitares noturnos, chapas de pulmões carentes de ar. Como o meu. Lembro da promessa morna sussurrada baixinho no pé do ouvido, uma voz doce vinda do peito, acarinhando o que se mantém, apesar de. Forte. Firme. Cheio de luz. Lembro de tudo que não deixou de ser, nem de existir, e que cresce. Gigante. Maior que duas vezes eu. Por isso acredito. 

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