quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ouriço-do-mar

Estou exausta. A energia se esvai de mim como fiapos de carpetes velhos. Tenho que comprar uma caneta – há três dias acordo com a incumbência de comprar uma caneta, mas meu desejo é dormir um pouco mais. Faz tanto frio que eu tenho medo de me mexer, e o calor do meu peito, por si só, não é capaz de aquecer tudo o que está exposto. Parei de viver para viver outra coisa – impressa tão ditatorialmente a ponto de me fazer enfrentá-la mesmo sem vontade, sem tesão nem expectativa. Intimidada, flutuo de um canto a outro sem nem saber como cheguei daqui pra lá. Meu pensamento-liquidificador apita avisos que envolvem canetas e ligações não atendidas, e eu desejo simplesmente não precisar decidir.

Essa noite sonhei com um lugar onde eu estava só, e finalmente senti que meus músculos pararam de me mostrar o quanto eles estavam bravos comigo – mas o sonho (ou o sono) durou cinco minutos, e já logo era um dia pronto pra tudo de novo. Agora relutante, automatizo passadas duras e tento afastar qualquer resquício de lembrança boa que se insinua atraente ao meu redor. Nada adianta, meu riso está escondido e eu aceito, por fim, as nuvens cinzas e o humor preto-e-branco. Qualquer coisa vai ficar pra depois.

Uma idéia fixa e neurótica na cabeça, histeria podada por um sermão sem fundamento, brigas com relacionamentos diários insustentáveis, grito da boca pra dentro, ausência de canção. Eu já sei o que está acontecendo. Alguém quer falar comigo, por favor? Meia hora depois, e eu estou no mesmo lugar. Outra manhã, e o mesmo lugar.

Estou ouriço-do-mar. Estou ouriço e espeto.

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