Brisa fria e leve, luzes mil numa avenida que não tem fim. Trilha sonora e o pensamento longe, a decisão de caminhar em meio à gente, experimentando a vida de dentro passar pelo mundo de fora, lúcido e acelerado. Uma estrela única, solitária, ilumina o céu quase inteiro, e eu sigo tentando identificar o que há por trás de cada rosto que surge e desaparece, e caminha em direção oposta a minha. Uma menina com cabelos pretos e ar misterioso escolhe três ou quatro filmes pra assistir mais tarde
O moço com braços bonitos deixa o skate cair por uma ladeira e quando percebe já é tarde demais. Uma vez na ladeira, tem que chegar lá em baixo, pra depois voltar e continuar a correr, mais rápido que nunca. Um vestido com listas grossas cor de amora passa e deixa o vento levá-lo para dançar. Pares de sapatos cheios de estilo tropeçam uns nos outros. Duas mãos dadas me lembram que têm coisas que eu quero, sim, mentira minha fingir que não. Paro, porque agora eu não posso passar, separada por faixas brancas riscadas no chão do rapaz com cara de negócios e mãos cheias de papéis. Respiro fundo e olho acima para as construções sem fim. Me sinto pequena, mas também infinita num espaço particularmente menor e mais denso que o projetado aos meus olhos. Qual será a distância de lá até aquilo que me fará feliz?
Decido que quero tomar um café sentada numa poltrona grande e confortável, que me afunda naqueles tais pensamentos sem nenhuma razão. Insuportável funcionamento acelerado da mente. Hipnotizada e disrítmica tento entender aquilo que ultrapassa qualquer entendimento, enquanto mareio os olhos cansados... Sinto o gosto marcado e denso do grão moído, amargo a sensação teimosa do meu apelo a mim mesma. Mas por fim, sou vencida pela brisa doce e fria da avenida grande, que me toma outra vez e me mostra que há pulso quente e forte emergindo de mim.
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