sábado, 28 de agosto de 2010

Tudo brota de mim, a sensação falha e incompetente, o cansaço maior que duas vezes o peso do corpo, a vontade de não querer mais isso da vida. De repente me falta fôlego, me falta o sentido, me falta razão. Estou presa à inércia surda do vácuo, não há nada além da emoção fria de desapontamento. Sou eu comigo mesma – e do outro lado está o mundo, duro, com olhos vermelhos e dentes rangidos à mostra. Eu encolho.

São essas coisas diárias, estáticas e intransigentes, que me fazem perder a paixão. Alguém me diz - como se vive sem paixão? Eu preciso estar apaixonada, preciso acreditar verdadeiramente naquilo que faço, ter brilho nos olhos, sangue nos olhos! Eu preciso do arrepio, da excitação, da poesia - mesmo na dor. Sem isso sou passarinho na gaiola e caibo num envelopinho de papel.

Hoje eu não sei exatamente o que eu quero. Sei apenas que amo a idéia lispectoriana de liberdade, a minha idéia boba e romântica de fazer a diferença, a idéia maior de ser feliz, simplesmente feliz. Mas o que tenho vivido é uma reprodução cega e vazia dos dias de ontem, um transitar moribundo pelos lugares onde me mandaram estar. Me aproprio pouco dos passos que eu mesma dou, impaciente, pálida, murcha. Se me perguntarem, eu não sei responder.

Ainda lembro daquilo que um dia me impulsionou até aqui. Meu combustível é a gente desse mundo afora, as histórias de vida de cada pessoa, a beleza oculta nas faces duras e calejadas, nos pés, nas mãos. É disso que eu gosto, de sentir, de estar junto. Gosto de me emocionar com relatos entrecortados de um pedaço discreto da imensidão de uma vida qualquer, nos 15 minutos que, sim, têm impacto tsunâmico sobre mim. Eu gosto do encontro e da verdade no olho do outro.

Seja lá o que eu esteja vivenciando agora, sinto ainda latente aqui dentro os meus sonhos da época em que sonhar era real. Por enquanto, eu espero - agradecida pela sensação boa de que o dia acabou e eu posso tirar os sapatos.

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