domingo, 1 de maio de 2011

Casa



Estou sentada com saltos altos, experimentando uma sensação nova, ao som da poesia que beijou os meus ouvidos desde aquela primeira vez. Estes saltos me fazem ver que apesar das minhas pernas bambas, da insegurança em relação ao nome que isso tem, eu estou aqui, imposta a mim mesma. Gigante. A parede rosa imita o doce de como tudo tem se dado, leve, livre, doce, doce... Fantasiada, mais real que nunca, torno-me suntuosa rainha, dona do meu conto, das minhas asas quebradas, do meu coração alecrim. Me aproprio do canto e quando vejo no espelho, já tenho som!


Depois do susto e da falta de ar, silencio. Parece que de repente já não tenho mais palavras, porque esgotei os argumentos, as armaduras, as ataduras. Agora sinto, como um ritual bom de simplesmente ser sentido, a coisa não batizada me tomando desde os pés, pela espinha inteira, pelo bico dos seios, pelo cacho encaracolado caído meio torto nos ombros. Estou tomada, olhando pro meu desejo novo apelidado de inspiração.


Com mãos tão fortes, tão delicadas assim, se escreve em meu corpo uma nova oração que nem eu sabia ler. Um dialeto novo que eu acabo de me inventar. Estou vendada sobre um rumo sem direção. A culpa, afinal, é da vida, que insiste em ser maior do que caberiam nos meus planos bem cabidos, bem dotados. Já benzida, agradeço à arte que dá voz ao que está dentro, indizível!


Volto ao que fui antes, ao que me tornei desde esse minuto seguinte. Vou brincar de boneca, brincar de sonhar, brincar de ser feliz...






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