quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ébano

Ele tinha olhos pequenos pro tamanho do desejo que guardava. Tinha dentes alvos, preenchendo a boca grande, o riso alto que enfeitiçava meus ouvidos. A lembrança me vem ainda na cama, hálito sabor de ontem, com cheiro de incenso de lavanda. O sol invade as cortinas, minhas frágeis arestas, a música do vizinho avisa que o deleite pode ser vivido ainda sozinha, ainda entre as cobertas.
Ele tinha um nome, mas eu dei um apelido que era só meu. Encheu o meu copo uma, duas, outras vezes em que deixei de contar. Mel e limão. Batia uma mão na outra fazendo o batuque para que o meu corpo dançasse, e eu tremia com a urgência do meu desejo, furacão.
Pele cor carvão, em brasa.
Misterioso ar da noite, que me apresenta a mim mesma com uma nova identidade. Homem pavão, penas e braços pra cima de mim. Em cima de mim. Eu me esquivo arrastando parte do perfume comigo, entrando no jogo sem a menor intenção de ganhar. Ele chega mais. Forte. Não há mais frio, nem ninguém. Eu desminliguo.
A dança agora é só para um.
(...)
Ouvindo "Man Down", Rihanna

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