sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Melancolia

Há uma coisa rústica no meu mundo, apesar dos avisos vitais de modernidade. A tecnologia pisca suas luzes e sons ao redor de mim, que estou toda encolhida dentro de um chapéu de palha, guardada num baú empoeirado e alérgico. Tomo o café a goles largos e calmos, quente. Poderoso sabor que me toma... Esse é o momento de viver a descoberta de ontem, que fiz ao sair espremida de um casulo apertado, lagartixa que regenera sua cauda. A introspecção dolorosa, mas vivenciada sem desespero, me soa hoje quase como um ato heróico. Eu sei das minhas próprias armas. Para além da limitação.
Dei a luz a um impulso egoísta de não me envolver, de deixar fluir sem que eu faça parte. A perda de objetos antes inquestionáveis me é tão seca quanto úmida, que presevo o direito de apenas observar, calada, minha nova forma de interação comigo mesma. Com o outro...
O relógio de pulso apita a urgência de uma tarde sem pressa. Dentro de uma sala escura, com uma história brilhando da parede, aceito a necessidade da pausa para o não-pensar. Estou tão para dentro que os meus olhos estão virados. Agora sou eu quem quer preservar a distância, a fina camada de defesa do que é só meu e está querendo sair. Um mundo inteiro gigante e novo, como se eu precisasse colocar um asterisco logo acima do meu nome. Não é apenas um adendo- dessa vez, até o espelho me engana. E eu pessoalmente estou satisfeita com essa velha estranha que se apresenta a mim com um ar resignado e leve, uma cicatriz justa no peito e a melancolia no perfume...

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