sexta-feira, 19 de junho de 2009

Desconhecida

Cresci comigo e ainda assim não entendo as minhas reações. Me surpreendo cotidianamente, porque há muitas coisas inesperadas, coisas antes nunca percebidas que surgem em mim como se brotando de um lugar fundo demais. Ou raso demais, tão raso que eu simplesmente não vi. Definitivamente, algo novo. Gosto de ser uma cada vez, mas às vezes um frio imponente me toma e eu fico sem saber... Me pega desprevinida, sem nenhuma pista! Acho que é só medo - medo de ser. Não sei a origem do turbilhão interno, da sensação ameaçadora, do desejo de apagar a luz. Tudo é aparentemente explícito, mas a verdade é que eu nada reconheço. Grito pra dentro, mas de dentro sai uma risada sarcástica, como se me provocando diante da minha cara nitidamente incrédula. Não quero ser esta pessoa que está posta, que está à mostra. Quero outra, pelo menos pra aliviar o que me arde agora. Tenho vontade de me deixar pra trás, e construir uma história mentirosa, mais fácil de lidar. Mas não passa de uma vontade rápida, e pra minha sorte, ainda me resta um raio de fé. Acredito ainda numa certeza tímida, numa possibilidade discreta, num ato mínimo no qual me reconheça - pra que nele eu desesperadamente me tome por inteira. Preciso me entender, pra compreender a vida. Não gosto do mundo gelado que se estabelece quando me afasto de mim. Eu sou naturalmente confusa – e sei que isso é o paradoxo maior dos meus desejos todos. Nada extraordinário, nada exatamente desagradável, apenas um embotamento sutil, quase silencioso, que me distancia de tudo. Convivo melhor assim – sem explosão. No excessivo controle. Nas horas que o novo me pega de jeito, eu quero mais é fugir ( e não entendo por quê). Enquanto isso, continuo predominantemente faminta, querendo ser uma gigante, com mais de 2000 metros de altura. Toda essa parafernália pra me encolher diante da necessidade real e urgente de uma posição. Que tola...! A cada dia cresce o meu desejo de entendimento, mas eu simplesmente não entendo. O risco maior é o não-encontro, e ele me leva a pensar sobre tudo o que me move. Porque estou em mim há 21 anos, repito, e ainda me sou desconhecida. Dentro de mim há um reino desconhecido, que vira lar de uma criatura que é um outro alguém. A verdade está dentro, esse fato é fato, mas ela submerge de um jeito sulfuroso. Borbulha e queima. Uma tempestade súbita desaba sobre a minha penugem branda, e eu me sinto esquisita diante do mundo. Quero as resposta. Preciso das respostas. Mais que isso, preciso de mim.

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