sábado, 13 de junho de 2009

Samba

O samba é a minha tradução. É onde eu piso um chão que entendo, onde os meus pés trocam firmes e sem medo. Minha casa, meu terreiro, meu reinado. Minha gente! Gosto de samba, porque gosto do que ele faz com o meu corpo, do que ele faz com a minha alma. Não existe samba sem o quadril farto da mulata mole, sem o chapéu Panamá do malandro velha-guarda, sem o sapato gasto da dona Preta, que sapateia miudinho, cheia de graça. Nasci torta, mas esse defeito Deus não me deu: o de não sambar. Peço a benção pro samba, entro na roda com a mão na cintura, me enfeito com o meu maior sorriso, e vou quebrando de um lado pro outro, num molejo todo bom. O samba é um convite sem-vergonha à fogosidade e, de quando em vez, até ao amor – por isso dele não me nego. Fecho os olhos e deixo ele escorrer em mim, até me lambuzar. No coro do refrão, choro junto com a cuíca, mas não é de tristeza. É de alegria (sim, senhor)!

O samba pra mim é onde eu provo a fruta proibida, e me esbanjo em meus pecados. Me acabo, mordendo a boca de lado, enquanto vou sentindo a pele ficar cada vez mais molhada. Nem por isso paro. Nem se o mundo acabasse. Me puxam pelo braço, e agora um outro corpo cheio de ginga se embala junto ao meu. As baianas que preparavam a feijoada se juntam ao grupo, e esse é o momento que eu mais espero, o mais lindo de todos... O samba é essa mistura de tudo, que dá no fim um prato dos melhores. O homem com a voz rouca canta as historias da amada que partiu, do lenço, das falsas juras, da saudade eterna, da fita amarela, do choro, da vela... As histórias do morro. Agora todos se despedem juntos da roda, num até-logo demorado, com o coração no pé.

Um sabiá cantador anuncia com a viola que hoje é noite de samba...

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