terça-feira, 2 de junho de 2009

Fantasia



Em dias como hoje, eu costumo chegar em casa e procurar refúgio. Monto uma tenda na sala, visto um agasalho bem quente, esquento um chá de limão. Aqui sou dona do reino, rainha e criada, senhora, escrava, bruxa e cristã - e todo o encantamento faz parte e é meu. Meus livros são meu subterfúgio, e é assim que ganho coragem, que ganho asas. Começo a viagem. Sou múltipla e fragmentada, uma e um milhão. Hoje nada me sufoca.

Num caminho longo de pedras, percorro a trilha com calma, experimentando cada passo. Ouço um assovio. Um bater de palmas. Uma moeda caindo no chão. Um trovão. Sigo sem medo. Num virar preguiçoso de páginas, me transformo naquela outra, metamorfoseada. Tudo me fascina e, estranhamente, não me tenho tão vacilante. A bússola aponta um norte qualquer, e qualquer direção está certa. A medida é certa. A hora é certa. Avisto um castelo de vidro onde começo tudo outra vez. Vou assim até o infinito...

Agora já ensaio um bocejo. Mesmo depois que o chá acaba e os olhos cansam, ainda me sinto nesse mundo bom. É assim que velo o meu sono, aproveitando o fim do dia frio. Uma leveza se desliza pra dentro de mim, e eu não sei de onde ela vem. Me aquece o peito uma sensação gostosa - estou completa. É por causa da mágica, soprada do livro cheio de rabiscos, da alma dos personagens que ganham vida através de mim! Me deixo ser levada. Me camuflo dessas mil, e não sou mais somente eu.

Ora, depois da fantasia, descanso em paz.

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