segunda-feira, 6 de junho de 2011

Diário de duas adolescentes (a quatro mãos)

Estamos sentadas no sofá. Agora, nesse minuto, temos apenas 15 anos e uma vontade enorme de parar de sentir. O sentimento parece que não tem fim, não tem medida. A gente morre de medo, morre de vergonha, morre de dúvida sobre o que a gente de fato sente. Parece que nada é suficiente. Afinal, o que mais podemos querer?



A sensação de desamparo é três vezes maior que o apartamento no nono andar. Difícil lidar com tanta racionalidade alheia. O que dissemos há 30 segundos parece que se esvaiu da memória, ficou apenas a sensação inconstante da solidão. É o gosto do vinho que faz tudo rodar.



E nunca muda. Temos 15 ou 25 anos e continuamos com os mesmos medos. Irracionais. É como numa armadilha, quanto mais lutamos contra, mais nos enroscamos. Seja viajando, bem perto do mar, seja na realidade da qual tentamos inutilmente fugir numa Segunda à noite.



“Já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada...”



É a milésima vez. Sentimos tudo igual como se fosse a primeira. E não importa quantas vezes. Será novamente igual. Nada basta. Nem flor, nem amor, nem todo romantismo do mundo. Temos ainda muita fome de algo que não tem nome.



A música chama “Triste”. E parece que temos essa necessidade de sofrer, agora e já. Forte!Com todas as músicas possíveis. Tudo de uma vez. Temos a ilusão de que vai passar depois de tudo sofrido. E o que estamos sofrendo mesmo? Ah é, a paixão…



Honestamente, sem incômodo algum, a gente não sabe lidar com nada disso. Alguém nos deixa ligar pra Elis e perguntar como ela sentia, por favor? Pra que inventar, então, se nunca vai existir? Eu não sei brincar de gostar. Pra mim é tudo pra valer, sempre oitenta, sem oito. Nunca o tempo é suficiente. Nunca a ligação é suficiente. Nem as lágrimas. Nada mais é suficiente.



Agora já a garrafa de vinho exala no ar. Cansa sentir, mas cansa ainda mais fingir que não se sente. Daqui a cinco meses seremos algo que aparentemente nos define, mas a verdade é que não sabemos o que vamos sentir nos cinco minutos seguintes. Ninguém nos avisou isso com a antecedência necessária, com a necessidade de afeto que preenche de fato o copo, o corpo, o coração.



A gente deve para nós mesmos não mudar o que somos pelos outros. É uma obrigação com a alma, ser o honesto, ser dramático o suficiente para admitir para si mesmo o que brota de dentro. Precisa culhão. Sangue nos olhos. Ranger de dentes. E a disponibilidade para amar e chorar, rir e cair, e todo o resto.

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