sábado, 18 de agosto de 2012

Cheiro

Eu rabisco cartas de amor mal escritas, pressuposto de tudo que está em mim, e me inunda. Hoje a noite tem um nome, que eu desenho entre flores em pedacinhos de papel quaisquer, guardanapos, bilhetes de avião, lembretes na geladeira. Não tenho vergonha em parecer ridícula, um cheirinho no cangote como de criança, a urgência desajeitada do toque, a delicadeza frágil da pele. Tudo aquilo de mim que é só seu. Escuto músicas feitas para meninas de 15 anos, porque os meus pés já deixaram o chão, e o que faz sentido agora é apenas sentir.
Meu corpo relembra sozinho, refaz o caminho do sofá sob as janelas e a lua até o quarto escuro de cama grande – mãos, desabotoar, rir, olhar, não cansar de olhar. Pretensão minha achar que posso ler seu silêncio explicitando esse tudo que não pode ser dito. Mesmo assim, de olhos fechados, sentindo o seu cheiro se confundir com o meu, acredito te ouvir dizer que sente também esse tanto, a ponto de extrapolar. De não caber. De querer para além de hoje, todos os dias.
Carrego essas infinitas cartas de amor com aquilo tudo que eu quase falei, que eu quase pedi, que eu silenciei pulsadamente esperando ouvir você falar, você pedir. Você, que quase falou. Quase pediu. Carrego essas horas intermináveis em que desejei falar com você, estar com você, e todo o resto que não existe de longe. Essa distância dolorida, a vontade latente que não passa, que há de ficar aqui comigo, alimentando uma a uma as cartas de amor que nunca enviei. Carrego suavemente impregnado à minha pele o seu cheiro doce, aquele cheiro que você me dá quando não tem ninguém olhando, esse cheiro que faz com que eu me apaixone por você outra, e outra, e outra vez...

... Tão bom sentir...


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