quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lírios.

Agora eu sei que comida japonesa dá a sensação de se ter um peixe vivo dentro da boca. Que mãos pequenas e delicadas sabem segurar de um jeito forte, enlouquecedor. Que além dos baianos, muita gente gosta de comida com pimenta e dendê. Menos pimenta, mais dendê. Que um perfume pode ser tão sedutor quanto um olhar. Agora eu sei que mesmo numa cama muito grande, mantenho-me encolhidinha de um lado só. Que uma luz vermelha num rosto misterioso faz perder todos os sentidos. Que beijos no carro são transgressões justas quando se tem ansiedade. Que meus olhos apaixonados enxergam apenas os lírios. Que estereótipos servem para afastar as pessoas, e que conhecê-las faz com que não se queira ir embora. Agora eu sei o que é ir embora sem querer.
Agora eu sei que ir ao mercado comprar Nescau é algo de que terei saudade. Que camisetas com laços servem meninas de mais de 20 anos. Que uma foto vale mais que todas as palavras. Que sofrer por amor vale. A rotina vale. A partida vale. Agora eu sei que cafés de Domingo lendo jornal nunca serão o que eu gostaria que fossem... Mas também sei que sempre terei o gosto daquela cerveja na garrafa, e da sensação que veio com ela. Que é possível se arrumar em 15 minutos e estar impecável, e que é possível simplesmente não acreditar que está ali, ao lado.
Agora eu sei que impulsos fazem correr ruas escuras na madrugada. E entrar sem pedir licença. Que sanduíches aparentemente grandes demais têm o tamanho certo para uma tarde sem fim. Que canetas nunca são apenas canetas, e por aí vai. Agora eu sei que correr uma maratona é um sonho grande o suficiente, e que alguns gestos simplesmente não podem ser agradecidos nunca na vida. Que choro no corredor não é sinal de fraqueza, especialmente quando há alguém do outro lado com quem se pode ser honesto. Agora eu sei, e guardo pra sempre,os corações ao alto...
Agora eu sei tudo o que pode acontecer num apartamento gigante. E tudo que deixou de acontecer. E tudo que ainda penso que aconteça. Sei de livros com rabiscos discretos, sublinhados vermelhos, dedicatórias pequenas, dedicatórias extensas. De uma mão dentro da outra. Agora eu sei que depois de um dia vem o seguinte, e com ele vem a espera por algo que não vem.
Agora eu sei que minhas palavras são pequenas demais, que eu sou pequena demais, mas que me torno um elefante diante de algo que me faz sentir. Sei que o meu peito vai encontrar paz, assim que encontrar resiliência e entendimento - e sei que isso pode nunca acontecer. Mas sei também que viver intensamente me faz experimentar um campo de lírios perfumados a cada encontro, esse sonho bom do qual não quero acordar.

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