quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Três

Nem todos os dias são de ganhar, nem todos os dias são de perder. Encosto-me na cabeceira, frouxa dos pensamentos que se esvaem pelo vão entre a dor e o resto. Entro hoje num trem para lugar nenhum. Essa é a minha nova invenção, um trem que só vai, que não chega nunca. Aprendi a pilotar um trem. Sem temer. Sem abrir os olhos ou colocar as mãos. Pus um chapéu azul, distintivo no peito, e parti.
Foi grande a minha coragem, a minha picaretagem, o meu dançar bailarina - ponta dos pés , panturrilhas rígidas, bunda pra dentro, peito pra fora! ...E um, e dois, e três, e um! Infinito. Leveza é mera ilusão. Entro agora na minha geringonça atrapalhando até os passos. De pliés, passés e pointé, sobra só o tropeço. Engatinho. Não sei mais andar. Para trás das cortinas, é tudo escuro e frio.
Quem sabe hoje é o meu dia de sorte. Foi numa jogada de pôquer que barganhei as passagens.

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