sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Minha

De repente, sou uma moça. Sentada na sacada de um prédio velho, olhando para a rua sem nome. Gente sem nome que anda. Sentimento sem nome.
Ele fugiu com a Pagu, foi o que me disseram. O homem me encara sentado, com o seu barrigão gestante, criando a poesia. 
Estou agora no segundo moça, açúcar ou adoçante? Mal contei as gotas, mal chorei as lágrimas. Corre discreto um teco de sol, um esboço de riso à saia azul. A cadeira permite espreguiçar, e eu dou tempo ao pensamento. Não estou muito longe, mas chego a Marte, vagarosa... 
Eu gosto particularmente das pessoas, enquanto testo a acidez do café. Amarga estou eu, olhos sempre cheios, olhos tão vazios. Existe uma urgência no ar. Para lá, para nada. Na mesa ao lado, mãos, lápis, caderno, blusa branca. Nenhuma percepção. Só espero um soar, em vão. Tímida em meu desejo de esconder ainda mais, de escancarar em dividir. Não vou sair do lugar.
Corações partidos, partilho do medo de nunca mais ser. Uma trança num cabelo crespo que amarra os laços e custa mais que a intenção. Às vezes o melhor é calar. Sinto saudades de mim.
Minutos contados no relógio correm tempo nenhum. Quase tudo me faz chorar, o rosto bonito de uma velha cheia de cabelos brancos, com o lenço dourado agarrado ao pescoço. A evitação e a vontade. O pedaço da canção que fala a verdade. A escada. 
Se pudesse, marcaria com grifos rosa choque quase todas as linhas desse livro de sebo. Todos os fatos da vida são muito curtos. Um piscar e já virararam luz.
A terceira moça não sou eu. Estendida sobre a cama, sonhos esgarçados e espera. Miragem...
Açúcar ou adoçante? Nem uma coisa nem outra. Sem nada.

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