terça-feira, 27 de julho de 2010

Saudade.


A minha mãe se despede de mim ao telefone mandando eu ser feliz. Eu me emociono com o pedido. A voz é a mesma de quando ela pede para eu me agasalhar antes de sair de casa, ou não esquecer de tomar o café da manhã. Mas algo de verdadeiramente forte impulsiona o seu sentimento, e ele me toma de uma forma real e grandiosa. Sorrio, porque sempre achei bonito sorrir, sorrir e sentir.


Estranho assim, sinto junto ao riso algo doer em mim. Pensei em dizer que não me dói exatamente o fato de estar longe de casa, apesar da saudade que não me deixa esquecer um dia sequer que ela está aqui e me acompanha. Mas a verdade é que a dor é a própria saudade, disfarçada de bagagem fina, incômoda, latente, querendo me vencer pelo cansaço. Eu canso, mas continuo - mesmo com o peito vazio e os olhos cheios.


A música já dizia que eu tinha que preparar o coração, mas sempre achei que a idéia de destino, por si só, já seria soldado suficiente para combater qualquer tipo de sopro mais forte vindo das terras de lá. Maior engano não há. Eu sou o próprio vento vindo de lá, estou ligada umbilicalmente ao mar, à sonoridade do mormaço, ao misterioso ritmo que permeia todas as coisas, silenciosa e pesadamente. Sou feita daquele barro, que imprime em mim toda a forma de ver e sentir. Respiro fundo e me encho de orgulho da minha natividade. Mas ainda assim, estou longe...


Sei que a minha mãe reza baixinho todos os dias, e sei também que sua oração não falha. Sei que independente dos passos que eu dê, migalhas aos montes estão espalhadas pelo caminho por onde passei, e eu consigo voltar a qualquer hora sem sequer pestanejar sobre qual direção pegar. Sei que não importa quanto frio eu passe, quão exposta à chuva eu esteja, ainda assim, há braços do tamanho do universo esperando o meu corpo, com aconchego, proteção, chá de canela e mel.


Eu vim descobrir o mundo, e vi que ele tem prédios que tocam o céu. Mas o céu mesmo está lá. Cheio das minhas memórias com riso alto e extravagante, saia rodada e chinelos de dedo, e a certeza de sim, (mãe), ser feliz.


Nenhum comentário:

Postar um comentário