sábado, 3 de julho de 2010

Ponto, falei.

Eu estou bem aqui, de carne e osso, tentando encontrar as palavras certas. Não deu certo a tentativa de fingir que não tenho pele, a verdade é que tenho tudo: corpo, desejo e sonho. Todo mundo precisa de inspiração, engano meu achar que estava imune. Passei muito tempo tentando me esconder, justificando a mim mesma que estar longe significava estar protegida, e agora engulo seca a solidão pelas minhas gargantas, sem saber por quem chamar. A vida não cai do céu... Tolice minha achar que estaria satisfeita em me colocar à margem, em passar pelos fatos sem sentir. Eu, tenho, sim, pele e ela arrepia... Estive evitando qualquer coisa que causasse dor, mas me dói a ausência de voz, de riso com os olhos puxados, de uma outra taça - mesmo que depois eu esteja sozinha outra vez.


Nunca estive tão vulnerável ao meu medo, mas nunca estive com tanto medo por não ter o controle. Quantos riscos mais eu vou ter que correr? Eu os assumo todos, porque o silencio calmo perturba cada centímetro de mim, e a verdade é que eu não quero estar sozinha. Está feito, assumo que não sei viver só comigo, e sinto essa exposição tão extrema sobre quem sou me queimando inteira por fora e por dentro. A transparência arde.


Eu posso conter esse desespero que toma conta de mim, juntar as minhas pernas e respirar bem fundo, sussurrando um mantra e insinuando uma meditação. Posso tomar um banho longo, colocar pijamas confortáveis, apagar as luzes. Posso preparar um café sem pressa, deixar que o cheiro preencha os cômodos da minha casa, e depois ingerir cada gole como se eles tomassem vagarosamente tudo que há em mim. Eu posso me alegrar pela liberdade de invadir o mundo de uma pessoa qualquer pelas páginas do livro na minha prateleira, e provavelmente é isso que eu vou fazer essa noite, após o banho quente e o café forte. Vou secar as minhas lágrimas, tirar os fones do ouvido e afastar essa música repetitiva que me traz a vontade de cantar com alguém. Não há mais procura no vazio dessa escuridão. Eu estou só, numa constatação diária, sem dramas, que nem deveria mais me ser tão dolorosa. É quase uma escolha, uma estratégia disfarçada de proteção. Eu já devia estar acostumada.


O meu mundo não está se esvaindo em pedacinhos, também não tenho reais motivos para soluços de desespero. Ainda agora toca o meu celular, e meu coração acelera na esperança de algo que me abra um sorriso, mas não é ninguém. Um aviso impessoal da empresa telefônica me convida a baixar jogos sem pagar por eles, e eu não consigo não pensar na grande ironia que isso é. Com quem eu vou falar sobre o meu coração manhoso, fingidor de dor? Será que a vida inteira eu vou ser essa garotinha de 12 anos? Não posso estar mais exposta que isso, mas agora não importa manter qualquer tipo de aparência madura. Eu clamo por socorro (e mantenho-me paralisada nos sofás). Não é que eu esteja vivendo nada novo, não houve sequer um sinal de alerta. O mar está do mesmo jeito, as luzes no mesmo lugar, os objetos empoeirados intocados, e eu aqui. Nada em mim se alterou, nem sinto o ritmo da minha respiração. Mas é sofrido do mesmo jeito, inexplicável o transparecer hialino da minha alma.



(Eu sou passível de ser feliz, e digo isso baseada nas incontáveis oportunidades diárias que não consigo ver. Eu sei que algo em cores irradia de mim. Há uma sensação potente e inexplicável que me emerge e que eu não sei o nome... Eu tenho chances, consigo vê-las, e elas me aparecem timidamente em convites despretenciosos, quase desatentos... Eu não sei o que eu quero, mas não quero mais ser minha única companhia. O mundo é grande demais pra ser admirado só pelos meus olhos – eu quero dividir a vida, dividir ela inteira.)

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