quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

31

Ele tem aqueles olhos que parecem que foram feitos de sorrir, mas que olham cheios de mistério. Eu precisava falar, e após a terceira, eu falei. Agora simplesmente fecho os meus olhos e danço conforme a batida da música que parece me sorrir com o canto da boca. Mon amour, ela diz. Amanhã já nem importa mais. 
Barris inteiros dividem o som das gargalhadas e o mastigar de azeitonas. Há a mesa e o caminho inteiro entre dois continentes. Minhas mãos não tocam além de muito longe, nem vão tocar, enquanto meus dedos congelam dentro da distância fria que naturalmente resolveu se impor. Ela, com seu desejo quase próprio. Tento não pensar para além do essencial.
Hoje já é depois do dia seguinte, e a poesia simplesmente se dissipou em meio ao leve ar de curta irritação. Os olhos agora contêm rugas mal disfarçadas, mal contadas pelo tempo. Não há desejo de partilhar, ou dividir, não há desejo nem ao menos de emprestar os fones de ouvido para que saiba a música que me faz invisivelmente sorrir. É simplesmente tarde, a minha paciência dormiu no meio do caminho e resolveu não acordar nunca mais.
Conto horas dentro do chacoalhar escorregadio da estrada, sem ter o menor poder de decisão. Há uma longa espera oscilante sobre o que exatamente sentir. Pouco me importa. Quem vai dormir agora sou eu...

Nenhum comentário:

Postar um comentário