sábado, 18 de fevereiro de 2012

A la Véronique



Dia novo, gosto do vinho sem nome misturado à noite. Cigarro apimentado, porque Paris está logo aqui, e eu me descobri outro alguém. Chamam por um nome, madrugada dentro, e eu respondo com a boca, com os olhos, com a língua, com as mãos. Esse nome nem é meu. Como a fumaça que sai lânguida pelo ar, tudo em mim se dissolve. Hoje sinto apenas o resquício distante do cheiro, vaga lembrança do deleite charmoso cheio de pretensão, cheio de arte. Avantajado. Lúcido devaneio... Saudade.
Minha roupa de baixo revela além do fato, mistério. Compro mais cerveja, enquanto tentam adivinhar minha identidade. Sou nada óbvia, inteiramente explícita. Pode tocar. Tiro uma fotografia borrada só para dizer que quero recordar o que quer seja isso nos vinte minutos seguintes. Honestamente, não faço a menor questão.
Arranho pelas costas um aviso escravo de que irei ao sacrifício. Nuca. Pescoço por entre os dentes. Agora mesmo. E ponto final.
Decido trêmula que já tive o suficiente, está na hora de mais, mais uma vez. Nada de quartos frios de hotel com camas que aguardam afeto. Nada de luvas tamanho maior emprestadas para que se aqueça o tantinho de vontade. Nada de espera pelo que não vem, ou pelo que vem clichê e serve apenas para que se escreva ao som de um cantor novidade. Não é absolutamente sobre lágrimas e papel toalha que estou falando, fico apenas com o drama, um daqueles de bom tamanho. Meu ar puro é assim. E esse é só o seu começo.
Amanhece nevando até as canelas, tão infinitamente branco que dói. Tudo contınuará do jeito que está, a nuvem clara vai perder sua cor, e ela, Véronique, vai evaporar. Digo adeus sem palavras. Braços espreguiçarão para longe as lembranças da madrugada aquecida de poesia. Tatuaram-me, porém, uma idéia, e tenho a leve impressão de que de hoje em diante nunca mais serei a mesma.

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