domingo, 26 de fevereiro de 2012

Gundaydin

Gunaydin

A manhã da antecipação me pega ainda pouco suculenta, mas cheia de intenção. Tenho tempo ilimitado para um desfrute da imaginação. Óculos de sol descolados, olhos marcados com lápis escuro, jaqueta preta de couro justa demais - onde estou com a cabeça? Penso apenas em engolir a mim mesma, pequeninos pedacinhos de prazer por ser quem eu sou, por me ter só pra mim. Só por hoje.
Percorro os espaços atenta à toda inspiração, o cheiro dos pós multicoloridos em caixinhas de madeira, a oração cantada em autofalantes com uma voz forte e trêmula, as pessoas seguindo o mesmo caminho que o meu, oferecendo suas próprias sortes. Retribuo sorrisos, trapaceio a língua e brinco de poder habitar confortavelmente aquilo que não é meu, mas me permeia. 
Sei que não estou pronta o suficiente para que me permitam voltar. Deveriam conter-me enquanto há tempo, porque meu corpo ainda borbulha do mal cozido, mal passado, à espera de mais. Não é hora, e eu sei, constato delicadamente à sombra do lenço suave cor coral enrolado no pescoço, enquanto sufoco do que sobra e é vazio.   
A vida percorre seus grandes portões de chegada e saída, eu obedeço os rituais todos com os dedos cruzados e o coração a mil. Se houver alguém chamado Destino olhando por mim, sussurro baixinho o meu desejo de paz. Ela e nada além. 

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