sábado, 18 de fevereiro de 2012

Tanuit

Acordo com a voz pesada de 1958, pela janela a partitura infinita cor flocos de neve. Ainda estou zonza do despertar tão longe. A roupa que me veste melhor é a paixão, e eu tenho medo de sair agora daqui e passar muito frio. Sei que estou nua. Meus olhos semicerrados esperam a hora de ter de partir, e eu os confundo com tanta luz e estática.
Mal cheguei e já encontrei cabelos que vivem apenas para que eu os olhe. Eros passou antes de mim por aqui. Presto discreta atenção neles e em todo o resto. No fundo, os cabelos só tornam tudo mais óbvio. Nem lembro mais dos outros olhos, da outra boca de despedida, enrolada língua. Nem espero mais outra vida. 
Sou a única habitante desse lugar, além das demais vozes que insistem em competir umas com as outras, mas é o silêncio quem vence. Eu queimo ao nada. Ocorre-me, entretanto, a possibilidade de que talvez eu nao seja interessante o bastante, e isso, apenas por hoje, honestamente me basta. Faz tanto frio que até meu pensamento se esquiva em responder. Dois pesos para cinco, talvez seis, muitas medidas. Tantas que já perdi a conta. A minha fome só ronca, e nunca passa. Eu como! 
Alguém com sotaque elegante, alguém com uma opinião sobre todas as coisas, alguém que não deixa o cachorro da rua me morder. Tudo misturado com muito tempero, pedaços fritos de frango, uma bebida quente. Com sorte, uma atitude mais leve sobre mim mesma, sobre a idéia de tempo, sobre o tamanho das horas. Nada se perde. Cultivo, regando delicadamente e recolhendo as sobras, a minha motivação.

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