quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Onde canta o sabiá

A minha terra tem palmeiras, tem guardachuvinhas em copos de bebida cor limão, tem ovos mexidos no café da manhã. Tem um violão que ri e chora, e se mistura ao corpo da mulher despretenciosa, saia florida e cachos generosos no cabelo, um avantajado sorriso pedindo uma noite de estrelas. Mulher de cor escura e pele quente. Um sabor maresia nos ombros largos, o desfrute da madrugada clara. Sem medo. Sem perda nem espera. Só o que há e é real, sem amanhã.
A minha terra tem sabiá e a saborosa feijoada do Domingo em família, uma ilha cheia de sol e preguiça. Tem também abacaxi com hortelã batidos fresquinhos, e as batatas roxinhas da mãe da Adélia. Tem um guri que levanta antes do raio pensar em acordar, e sai por aí cantando com suas curtas pernas, seus passos largos. Seus heróis de papelão, suas refeições de frutas roubadas do pé. Ouve ao longe gritos de corre-menino, mas ainda assim, insiste em controlar as horas boas da vida.
A minha terra tem o mar calminho pela janela do quarto, três ou quartos jeitos de se dizer que sente falta, ou sente saudade, um Senhor dos grandes abençoando qualquer um que simplesmente abra os braços. Tem um monte de homens com pernas grossas, ou pernas de pau, fazendo não sei exatamente o quê atrás de uma bola, e meninas novinhas adquirindo marcas deixadas pelo sol extravagante no seus corpinhos esbeltos, esculturais. Tem a voz daquele moço, que já não é tão moço mais, mas que ainda seduz com seus imcríveis olhos azuis. Essa minha terra, especialmente ela, sagrada e profana, cheia de mistérios, som e poesia.
A minha terra tem meu nome cravado no solo, raiz fixa e forte, frondosa cobertura que me deixa espreguiçar na sombra. Tem o gosto do meu suor, do meu perfume importado, do meu cheiro de todo dia pela manhã. Tem meus sorrisos e meus apertos, minha habilidosa capacidade de não saber, nunca, mas sentir. Tem todas as minhas paixões intensamente, exageradamente, deliciosamente vividas. Só lá sou o que há de melhor para ser em mim.                       
Lá, onde canta o sabiá. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário