sábado, 18 de fevereiro de 2012

Na caverna

Habita em mim agora um desejo de fechar os olhos e ficar. Parada. Habita em mim uma preguiça que vem do ventre, resquício dos dias em que banhos e cama eram um trabalho difícil demais! Estou de óculos e gosto de pasta de dente na boca, hálito quente e leve irritação com o brilho intenso da manhã. 
Preciso de um banho, para lavar até isso. Um banho que tire mais. Preciso de um sabonete barato sem cheiro, sem imaginação, sem promessa ou intenção qualquer. Apenas a existência tênue de fazer sair, sutilmente, o resto de tudo que é mais de um, o excesso. Estou pagando minha herança inteira de postais de lugares aos quais nunca fui, porque sei que tenho bagagem demais. Tenho o sabor do que sobra na palma da minha mão, o ar fresco do discretamente maior. Não cabe dentro.
Despejo a rígida sensação de que depois de agora o que insistir em ficar será algo imutável. Permito-me uma fotografia para recordação, e após ela, cinco minutos de ciência sobre o que de fato é. Fica sempre o inexplicável.
Após meia pílula de sono, estou pronta a deixar por ora tamanha indagação. Banho, pasta de dente, óculos de grau e imaginação. Dedos cruzados, uma xícara de chá de maçã, meia barra de chocolate Milka. Na hora certa eu vou saber. 

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