segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

+44

Hoje eu senti que queria você do meu lado, mas não podia sentir saudades. Precisei de uma estranha para me dizer o quão crítica eu sou comigo mesma. Como se eu não soubesse. Tenho tido noites agitadas, mas elas não são suficientes para me fazer acordar. São rios de imagens que me passam continuamente, não respeitam minha idéia pré fabricada de tempo e espaço, e me lembram o quanto estou submersa, sem oxigênio. Hoje é um daqueles dias em que tudo está rarefeito. Dias em que eu simplesmente perco a voz.
Alguém de longe me liga e eu sinto uma proximidade estranha. Quem está ao lado parece distante demais, e eu desejo apenas mergulhar, fundo o suficiente pra não ouvir. Quero deixar cair, mas ela insiste em ficar tocando-me o rosto de forma a cristalizar-se, delicadamente sufocante. Não posso mais mentir, nem fingir, ou correr. A vida pede sua parte, e eu pago com o pouco que tenho nos bolsos de trás dos jeans sujos de terra. Crio o enfeite das horas para comer quando estiver sozinha, trancada em mim mesma pelos fones de ouvido. Faz tempo que não me cantam pertinho aquela oração, e eu já sinto falta dela. 
Minha inspiração é fulgás, assim como meu paladar, minha lista de presentes, meus diários de figurinhas. A moça bonita me oferece chicletes, eu aceito para parecer educada, mas no fim, o gosto doce de laranja me cai satisfatoriamente bem, como se soubesse da minha necessidade de algo mais. A avenida é longa, mas o tempo ainda não é o bastante. A saudade foi desgastada, descongelou-se por entre as horas, e o que restou foi apenas a vontade de nada. Nem um pouco. Lentas mordidas aguardam meio amanhecer num outro continente. A outra metade continuará por aqui, em busca.

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